Nise da Silveira é, sem dúvidas, uma das figuras mais importantes quando se fala em saúde mental no Brasil. Nascida em 15 de fevereiro de 1905 em Maceió, cursou a Faculdade de Medicina da Bahia de 1921 a 1926 especializando-se em psiquiatria. Ela era a única mulher entre os 157 homens de sua turma. Casou-se com seu colega de classe, o médico sanitarista Mário Magalhães da Silveira com quem conviveu até a data da morte dele em 1986.

Durante a Era Vargas, Nise da Silveira foi presa por ser comunista por 18 meses em 1936 com Graciliano Ramos, Olga Benário Prestes e Elisa Berger. Ela é uma das personagens do livro de Graciliano Ramos “Memórias do Cárcere”. Em 1944, Nise da Silveira iniciou seu trabalho no “Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II” (Hospício Pedro II), hoje chamado de “Instituto Municipal Nise da Silveira”, no Engenho de Dentro (Rio de Janeiro).

Nesta instituição, ela fundou a “Seção de Terapêutica Ocupacional”, possibilitando outro tipo de atendimento aos pacientes, por meio da expressão simbólica e da criatividade para que assim eles reatassem seus vínculos com a realidade. Recusava-se a praticar a eletroconvulsoterapia (ECT), preferindo estimular e trabalhar com as manifestações afetivas de seus pacientes. Foi pioneira também no uso de cães e gatos como “co-terapeutas”. Esses trabalhos revolucionaram a Psiquiatria Brasileira. Em 1952 Nise fundou o “Museu de Imagens do Inconsciente”, no Rio de Janeiro, este ano o Museu completou 60 anos.

Nise da Silveira se comunicava por cartas com Carl Gustav Jung e tinha seu apoio na exibição das obras (quadros, esculturas, mandalas) de seus pacientes. Ela estudou no “Instituto Carl Gustav Jung” por duas vezes entre os anos de 1957 a 1958 e de 1961 a 1962, sendo supervisionada pela assistente de Jung, Marie-Louise Von Fraz. Assim, Nise da Silveira é a pioneira nos estudos e na divulgação da Psicologia Junguiana (Psicologia Analítica) no Brasil, dentre suas principais obras está o clássico livro “Jung: vida e obra” publicado pela primeira vez em 1968.

Em 1956, preocupada em resgatar a dimensão humana dos denominados “loucos”, Nise da Silveira criou a Casa das Palmeiras, uma instituição pioneira de acolhimento “de portas sempre abertas”. Nise gostava tanto de seu trabalho no Centro PPPII que em 1975, no dia seguinte a sua aposentadoria compulsória, se apresentou ao CPPII como a mais nova estagiária.

Ela faleceu aos 94 anos em 30 de outubro de 1999. Durante a sua vida recebeu diversas condecorações, títulos, primeiros em diferentes áreas e seu trabalho é reconhecido internacionalmente. Como uma pioneira no movimento antimanicomial, muitas de suas ideias ainda são hoje discutidas e utilizadas na luta antimanicominal.

Para encerrar, assim disse Nise da Silveira…

“Não se curem além da conta. Gente curada demais é gente chata. Todo mundo tem um pouco de loucura. Vou lhes fazer um pedido: vivam a imaginação, pois ela é a nossa realidade mais profunda. Felizmente, eu nunca convivi com pessoas muito ajuizadas” “Um diálogo é estimulante. A solidão também.” “A palavra que mais gosto é liberdade. Gosto do som dessa palavra.” “O que melhora o atendimento é o contato afetivo de uma pessoa com outra. O que cura é a alegria, o que cura é a falta de preconceito.” “Estou cada vez menos doutora, cada vez mais Nise.” “Não me atrevo a definir a loucura.” “Não sou muito do passado. Sou do futuro. Quem olha demais para trás, fica.”

Saiba mais sobre Nise da Silveira:

Mostra Nise da Silveira – Vida e Obra

Entrevista concedida em 1992