Inaugurando a seção de sugestões de leitura eu vou indicar um dos grandes clássicos da Psicanálise e também da Psicologia: “A interpretação do Sonhos” de Sigmund Freud.
No Livro “A Interpretação dos Sonhos” (Die Traumdeutung), publicado originalmente em 4 de novembro de 1899 (alguns dizem 1900), Freud construiu as bases da teoria psicanalítica, passando a constituir o ponto de apoio para todo o desenvolvimento posterior de sua obra. Esse livro é um verdadeiro clássico e é considerado uma das obras mais importantes (talvez a mais importante) de Freud. Assim é uma leitura praticamente obrigatória para Psicólogos e com certeza uma leitura obrigatória para psicanalistas.
Nesta obra revolucionária, Freud introduz uma nova visão sobre a natureza e os significados dos sonhos. Antes dessa obra, os sonhos eram considerados apenas como trivialidades, resquícios das experiências da vida diurna. Para Freud, os sonhos não eram banalidades e mereciam atenção:
“Não se devem assemelhar os sonhos aos sons desregulados que saem de um instrumento musical atingido pelo golpe de alguma força externa, e não tocado pela mão de um instrumentista; eles não são destituídos de sentido, não são absurdos; não… implicam que uma parcela de nossa reserva de representações esteja adormecida enquanto outra começa a despertar. Pelo contrário, são fenômenos psíquicos de inteira validade – realizações de desejos; podem ser inseridos na cadeia dos atos mentais inteligíveis da vigília; são produzidos por uma atividade mental altamente complexa”. (Freud, Ed.Imago, 2001, p.136).
Os Sonhos, para Freud, são uma maneira do psiquismo de “realização de desejos” – os sonhos são tentativas por parte do inconsciente para resolver um conflito de algum tipo, seja algo recente ou algo do passado mais distante (mais tarde em “Além do Princípio do Prazer”, Freud discute alguns tipos de sonhos que não parecem ser de realização de desejo). Como os conteúdos do inconsciente são muitas vezes perturbadores, existe um “censor” que não permite que esses conteúdos sejam manifestados conscientemente. No entanto, quando dormimos, a vigília do “censor” é reduzida, embora ainda permaneça atenta: assim, o inconsciente deve distorcer e deformar o sentido da sua informação para conseguir que ele passe pela censura. Os sonhos para Freud são “o caminho real para o inconsciente”.
Desse modo, para Freud na maioria das vezes o que sonhamos não é o que parece ser, mas sim algo distorcido e mais profundo que precisa então de interpretação para ser compreendido. Essa distorção decorre principalmente dos mecanismos de condensação (síntese de ideias/conteúdos com pontos em comum, fusão de ideias/afetos/desejos semelhantes com objetivo de desfocar o verdadeiro objeto) e de deslocamento (substituição de um objeto latente por um de seus fragmentos constituintes). Assim todo sonho tem um conteúdo latente e um conteúdo manifesto. O conteúdo manifesto é aquele que nos lembramos, o enredo, a história do sonho, já o conteúdo latente é aquele que está por trás do manifesto, é o conteúdo verdadeiro e censurado e, portanto, o objetivo da interpretação do analista é o de encontrar e tornar consciente o conteúdo latente.
Concluindo, em a Interpretação dos Sonhos, Freud apresenta sua visão de que os sonhos são na verdade uma expressão de desejos e conflitos que não podem se tornar conscientes e, portanto, ficam “censurados” em uma instância psíquica que ele denomina de “inconsciente”. Quando adormecemos a censura é reduzida e os sonhos são experienciados de forma distorcida, revelando-se em uma forma manifesta (distorcida) e uma forma latente (censurada). O conceito de inconsciente e de mecanismos de defesa apresentados nessa obra perpassam todas as demais obras de Freud, o que faz desta uma obra fundamental para todo interessado em Psicologia.
O livro pode ser encontrado em Edições Pocket traduzidos direto do alemão pela editora L&PM Pocket (dois volumes) ou em Edição Comemorativa de 100 anos pela editora Imago.
Espero que você tenha gostado dessa resenha, não esqueça de deixar seu comentário, curtir e compartilhar com seus amigos. Até breve.