Você certamente já deve ter ouvido falar ou talvez já tenha até mesmo dito para alguém que “um olhar diz mais que mil palavras”. Realmente, um olhar pode comunicar muito (não sei se mais ou menos que mil palavras, mas com certeza o olhar é capaz de transmitir diversas mensagens). Não só o olhar, como os gestos, a expressão facial, a postura corporal, a entonação da voz são instrumentos valiosos para que a comunicação ocorra de forma eficiente. Quando nos relacionamos com as pessoas a nossa volta, não fazemos isso apenas verbalmente, mas sim usando todo o nosso corpo, que está presente e compõe a comunicação. Nesse sentido, é possível afirmar que o corpo também fala.
A comunicação não verbal é tão importante quanto a verbal, na medida em que assume funções fundamentais para que as pessoas consigam comunicar aquilo que desejam de uma forma que o ouvinte tenha condições de entender a mensagem corretamente. Pesquisadores como Del Prette e Del Prette (2012), apontam que dentre as funções da comunicação não verbal, é possível mencionar ao menos cinco tipos: (1) substituição da linguagem; (2) regulação da comunicação; (3) apoio à comunicação verbal; (4) complementação da linguagem e (5) contradição da linguagem. (Não se assustem logo de cara, explicarei cada uma delas).
Quando um pai que está bravo olha para o filho de determinada maneira e aperta a mão dele, por exemplo, geralmente não é necessário que ele diga nada verbalmente para que o filho entenda a desaprovação do pai em relação ao seu comportamento naquela ocasião. Da mesma maneira, a troca de olhares e de sorrisos em uma paquera, já denota interesse entre os envolvidos, sem que nenhuma palavra seja pronunciada. Tais situações ilustram o primeiro tipo de função da comunicação não verbal, no qual se substitui a linguagem pelos comportamentos não verbais, sendo que esses podem ser tão ou mais expressivos que a fala em certos contextos.
Em relação à regulação da comunicação é possível mencionar a própria pausa entre a fala de uma pessoa e outra em uma conversa, assim, quando uma pessoa para de falar, sinaliza que há espaço para que outra pessoa tome a palavra. Além disso, as mãos exercem um papel importante nessa categoria, indicando pausas, interrupções ou interesse em falar. Quando em uma aula alguém levanta a mão para fazer uma pergunta, a comunicação não verbal está sendo utilizada como reguladora da comunicação.
Os nossos sentimentos são também expressados pela comunicação não verbal, o que por sua vez, demonstra o apoio à comunicação verbal oferecido pela não verbal. Quando um torcedor de futebol fica feliz com o gol de seu time, não somente diz “GOL!”, mas ao dizer levanta-se do sofá, grita, vibra, movimenta os braços rapidamente, sorri, entre outras coisas. São esses comportamentos que permitem dimensionar o quanto o torcedor esteve feliz com o desempenho do time. Sentimentos de tristeza, raiva, nojo, surpresa, medo e todos os outros são evidenciados pelos diversos recursos do corpo que vão além da fala.
Ademais, a comunicação não verbal pode complementar a linguagem, quando uma pessoa verbaliza “você é meio…” e faz movimentos circulares ao lado cabeça, já se entende que a complementação da frase refere-se a maluco. Existem muitas situações no nosso cotidiano em que utilizamos elementos não verbais para complementar o que estamos dizendo. Por outro lado, a comunicação não verbal, pode ainda ser utilizada para contradizer a linguagem, de modo a propor que o conteúdo falado não seja levado em consideração ou no mínimo amenizado. Quando alguém diz “a festa foi ótima”, mas faz um movimento com o polegar para baixo ou movimenta a boca para o canto, na verdade, está querendo dizer que a festa não atendeu às expectativas. Desse modo, o que foi demonstrado não verbalmente é propositalmente incoerente com o que se falou e transmite uma mensagem diferenciada.
A partir dessa breve descrição das funções básicas da comunicação não verbal, torna-se clara a relevância da maneira como nos expressamos através do corpo todo e o impacto que isso tem na comunicação (e consequentemente, nos relacionamentos). Além disso, o contexto em que estamos deve ser levado em conta para que saibamos quais os comportamentos não verbais mais adequados. Se o torcedor do exemplo anterior estiver devidamente uniformizado, gritar e vibrar no estádio, em um barzinho ou em casa ao ver o gol do seu time, provavelmente não terá problemas, pois seus gestos, entonação de voz, expressão facial, estarão, inclusive, contribuindo para que as pessoas ao redor compreendam suas atitudes, pensamentos e sentimentos. No entanto, se o mesmo torcedor, for fazer uma entrevista de emprego com a camiseta do time, além de gritar e vibrar quando o entrevistador lhe disser que poderá iniciar no dia seguinte, tais comportamentos não serão entendidos de forma semelhante ao do jogo e poderão, até mesmo, serem interpretados como inadequados e prejudicá-lo.
É claro que a situação ilustrada acima representa um exagero, no entanto, serve ao propósito de evidenciar a atenção que deve ser dada aos elementos não verbais da comunicação, para que se observe o contexto e assim se aja apropriadamente de acordo com o mesmo. Essa tarefa pode parecer simples, mas na verdade exigirá o seu empenho. Comece a observar se você está comunicando aquilo que de fato quer dizer, como as pessoas respondem ao que você diz, etc. Lembre-se que não vale analisar estritamente o que está sendo falado, mas, além disso, e talvez principalmente, a forma como está sendo falado. Você tem utilizado o tom de voz adequado às situações e pessoas com quem estabelece algum diálogo? Sua expressão facial está transmitindo o que você está sentindo ou não? A distância corporal que você mantém do ouvinte é muito distante, muito próxima ou é o suficiente? Essas são apenas algumas das muitas perguntas que podem ajudá-lo (a) a verificar como tem sido sua comunicação, no sentido de perceber suas potencialidades e os pontos que pode melhorar.
As habilidades de comunicação verbal e não verbal fazem a diferença na hora de estabelecer e manter os relacionamentos interpessoais, então procure usá-las a seu favor, no sentido de promover ao ouvinte a mensagem que você realmente pretende e as conseqüências esperadas. É claro que muitas vezes o ouvinte não é um bom leitor das nossas expressões não verbais e não percebe o que elas comunicam, assim como também existem comportamentos não verbais que não conseguimos controlar, como o ruborizar diante de uma situação que gera sentimentos de vergonha ou o tremor das mãos quando estamos ansiosos (mas esses já seriam assuntos para outros textos). Por enquanto, vamos nos ater às habilidades não verbais que você pode aprender e desenvolver, pois direcionando o que o seu corpo fala, terá mais chances de transmitir sua mensagem, do que se deixar a responsabilidade exclusiva para as palavras.
Referências Bibliográficas:
DEL PRETTE, Z. A. P. e DEL PRETTE, A.Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia, educação e trabalho. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012
DEL PRETTE, Z. A. P. e DEL PRETTE, A. Psicologia das relações interpessoais: vivências para o trabalho em grupo.Petrópolis, RJ. Vozes, 2001.