Com muita frequência, ouço falas do tipo “Eu admiro tanto o fulano, queria ser quem nem ele…” ou “Como você consegue XYWZ? Eu queria muito conseguir fazer isso…” ou ainda “Eu quero fazer XYWZ, mas não tenho ideia de por onde começar…” O que eu normalmente respondo numa situação destas é: a distância entre o que você é e aquilo que você quer ser é a medida exata do seu comportamento.
E se a distância é a medida exata do seu comportamento, como chegar lá? Encurtando essa distância, é claro. Eu explico: qual é exatamente a diferença entre você e esse(a) Fulano(a) que você admira? O que ele tem que você não tem? E essa coisa que você gostaria tanto de fazer, o que precisa pra fazer isso?
Na maioria das vezes, ao tentarmos responder estas perguntas, recaímos em velhos conceitos falidos sobre nossas “essências”, ou “personalidade”. A resposta padrão normalmente segue um estilo “Fulano É assim e assado, e eu não SOU.” Ou: “Fazer isso não tem a ver com quem eu SOU”. Mas e se formos um passo além desta ideia do SER, e passarmos pra ideia do FAZER? E se considerarmos, por um minutinho apenas, que este SER é produto de um FAZER?
Vamos lá, pensa rápido: o que é uma pessoa corajosa? Aquela que faz coisas difíceis, que supera seu medo, que enfrenta situações complicadas, que transcende suas próprias dificuldades… todas formas de AGIR, que dependem de um COMPORTAR-SE específico. Nós costumamos pegar este conjunto de ações, associá-las a um sentimento, e integrá-las todas dentro de um pacote chamado “coragem”. Que, a bem da verdade, vamos combinar: sem a ação, não significam muita coisa.
Pois bem, e se pudéssemos aplicar isso a tudo? E transformar aquela distância entre você e Fulano numa descrição comportamental? Então, a diferença entre você e Fulano, ou aquele ponto por onde você deveria começar, fosse… UMA AÇÃO?
Pense numa pessoa que você admira; agora pense no porquê. Muito provavelmente uma série de conceitos vão surgir na sua cabeça – pois é isso que nossa mente faz, agrupa tudo em conceitos, que é pra facilitar nossa vida. Vamos supor que, então, você admira muito a sua vizinha. Na sua cabeça aparecem os conceitos “descolada”, “responsável”, “bem-resolvida” etc, etc, etc. Agora, tente descrever, em AÇÕES, cada um destes conceitos. O que faz de sua vizinha uma pessoa descolada? Talvez ela esteja sempre atenta às novidades e tendências? Talvez ela leia bastante e mantenha-se informada sobre vários assuntos? E responsável? Como é que ela faz pra ser responsável? Paga as contas em dia? Não atrasa ao levar os filhos pra escola? Mantém uma boa organização e tem ações éticas no trabalho?
Se você levar essa “tática” ao pé da letra, vai ver que sobra pouca coisa de pé em termos “conceituais”. Vai ver que, na verdade, a nossa “essência” apenas revela um padrão comportamental, uma tendência a agir de uma determinada forma. Talvez essa tendência esteja alinhada aos seus valores pessoais e princípios de vida, e então tudo bem. Mas quando esta tendência não está em sintonia com os seus desejos e aspirações, é comum que você se pegue se sentindo frustrado e desapontado consigo mesmo, o que pode levá-lo a comparações um tanto injustas com o resto das pessoas.
Portanto, pense novamente: se você gostaria muito de ser mais organizado, por exemplo, pense nas ações que determinam este conceito de organização, e tente descrever em detalhes quais os comportamentos de alguém organizado. Manter uma agenda? Conservar documentos separados em uma determinada ordem? Fazer uma coisa de cada vez?
Nem sempre esta é uma etapa fácil. Pode ser difícil compreender o que faz do seu chefe um líder tão bom, por exemplo. Pode ser que você precise gastar um pouco mais de tempo observando o que ele faz. Mas creia, com alguma perspicácia você conseguirá discriminar as ações necessárias para isso. Mesmo que este alguém admirável seja alguém distante, como por exemplo, o Dalai Lama, ou qualquer outra pessoa.
A partir do momento em que você conseguir chegar a uma descrição comportamental daquela característica, você já tem o primeiro passo, o local de onde você vai começar. E quanto mais detalhada essa descrição, mais suave será seu caminho inicial. Compre uma agenda. Separe caixas pros seus documentos. Bote vários relógios para despertar ao mesmo tempo. Comece a reciclar papéis. Leia as notícias da semana. Coloque suas contas a pagar em um local visível.
Aja.
Não espere entrar “no clima” emocional para tomar uma atitude. Tome a atitude e veja seu clima mudar. Nem toda mudança é de dentro pra fora – de fora pra dentro acontecem coisas importantes, desde o ar que respiramos até os carinhos que recebemos. O lado de fora também é real, e aquilo que você faz é geralmente tão importante quanto aquilo que você sente. Ou melhor: um não existe muito sem o outro. Comportando-se de outra forma, seu sentimento o acompanhará também. A mudança é uma via de mão dupla.
A distância entre onde você está agora e onde você quer chegar é de exatamente o seu comportamento. Mude suas ações, quebre suas tendências, experimente novas atitudes. Reveja seus conceitos – não em termos de julgamentos morais, mas de ideias mais realistas sobre o que se trata cada uma destas qualidades que você tanto admira.
Transporte para sua vida. Encaixe no seu dia a dia. Visualize esta distância se encurtando. Parabenize-se. Você está chegando lá.