Ultimamente, muito se tem discutido sobre Mindfulness em psicoterapia. Esse conceito, também conhecido como Atenção Plena, refere-se a estar consciente da experiência presente, momento a momento, sem julgamento e de forma não reativa na elaboração do conteúdo do que estiver acontecendo. Há inúmeras evidências científicas dos benefícios da prática de Mindfulness, por isso o tema tem sido tão abordado nos últimos anos e surge como uma das principais inovações das Terapias Cognitivas de Terceira Onda. Nesse artigo, discutiremos cinco elementos cruciais para o entendimento do conceito e do processo de Atenção Plena.
O objetivo dessa prática é focar a atenção no momento presente, sem julgamentos ou juízo de valores, a fim de ampliar a consciência ao aprender a ser um espectador dos próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos, ao invés de interpretar o mundo através de tais processos internos. Muitas pessoas não conseguem tolerar as emoções negativas, e o Mindfulness ajuda a trazer a compreensão de que os pensamentos e os sentimentos são passageiros, promovendo uma melhor regulação emocional.
O conceito de Mindfulness vem da filosofia oriental budista. Há indícios de que o que hoje chamamos de Treinamento de Atenção Plena tenha começado há cerca de 2500 anos, com Buda. Na filosofia oriental, Mindfulness pode ser entendido como uma qualidade mental a ser desenvolvida e cultivada através da prática da meditação para se chegar a um desenvolvimento pessoal e espiritual. Já aqui no Ocidente, esse tipo de meditação não necessariamente está vinculado a essa proposta, sendo mais abordado nas psicoterapias.
Pode-se praticar Mindfulness por meio da meditação formal (sentada e silenciosa) ou informal (mantendo-se focado no presente durante a realização de tarefas cotidianas, como lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho e comer uma refeição, entre outras possibilidades). Geralmente, o treino da meditação com foco específico (se for formal, focando na respiração ou no escaneamento corporal, por exemplo) é importante para aprender a sustentar a atenção e a tomar consciência do momento presente. Nesse aspecto, a meditação formal oferece a vantagem de promover a disciplina necessária para a aquisição de tais habilidades. Uma vez que a pessoa consegue sustentar sua atenção e manter-se consciente, pode-se praticar um monitoramento aberto à totalidade da experiência do momento presente – o que envolve sensações, pensamentos, sons, e por aí vai.
A prática de Mindfulness tem sido inserida nas Terapias Cognitivas por terem em comum a validade científica. As TCC´s são terapias baseadas em evidências, e os estudos realizados com Mindfulness apontam que essa técnica promove muitos benefícios na redução de sintomas depressivos, de ansiedade, de estresse e de insônia, entre outros.
Outro ponto em comum é que ambas as práticas partem do princípio de que a interpretação que o indivíduo faz das coisas e das situações que vivencia determina como sele irá se sentir e como irá agir a respeito. A meditação voltada para a Atenção Plena busca trazer à consciência a noção de que os sentimentos e pensamentos podem surgir e desaparecer naturalmente, sem necessariamente desencadear mais pensamentos ou sentimentos oriundos do apego/perda (no caso de sintomas depressivos) ou da aversão (no caso dos sintomas de ansiedade). Essa mudança na relação com os eventos mentais proporciona uma nova forma de perceber e reagir aos fatos.
As neurociências também têm apresentado resultados interessantes em pesquisas com Mindfulness. De uma forma geral, os estudos apontam que essa prática é capaz de promover mudanças estruturais e funcionais em regiões como o córtex pré-frontal (área de processamento de informações, da regulação da atenção e das funções executivas) e a amígdala (área de ativação de circuitos do medo e da ansiedade). Assim, a Atenção Plena ajuda a desenvolver uma maior habilidade de interromper a elaboração cognitiva de emoções negativas (como a preocupação e a ruminação mental) e a reduzir os sintomas de ansiedade.
Referências:
Melo, W.V. (org) Estratégias Psicoterápicas e a Terceira Onda em Terapias Cognitivas, Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.
Leahy, R.L., Tirch, D., Napolitano, L.A., Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Roemer, L. e Orsillo, S.M., A Prática da Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em Mindfulness e Aceitação. Porto Alegre: Artmed, 2010.