Na ocasião em que duas pessoas decidem compartilhar suas vidas, morar na mesma casa, dormir e acordar na mesma cama, o relacionamento alcança um nível superior se comparado à experiência do namoro. Mas, para algumas pessoas, a fase de adaptação pode se tornar um período longo e doloroso, principalmente se as expectativas não corresponderem à realidade.

A opacidade da rotina

Independentemente do tipo de relação (se entre pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes) é bastante comum a nutrição de um desejo de felicidade quando a união se concretiza oficialmente. No entanto, casais que namoraram 9 meses e aqueles cuja história amorosa completou uma década, por exemplo, deparam-se com o mesmo impasse: o choque com a rotina diária de defeitos, novas responsabilidades e pormenores domésticos. São situações das quais não se pode fugir pois estão no dia a dia, próximas e a reação do casal, ou de pelo menos um dos dois, contribui para assegurar o sucesso ou fracasso do relacionamento.

No estágio de namoro, no auge da paixão, o casal deseja unir suas vidas, faz planos, fantasia e caminha nessa direção. Porém, a realidade de conviver com gerenciamento de rotina doméstica e financeira, além de manias e desleixos, pode propiciar um intenso sentimento de inadequação, transformando a frustração numa dinamite capaz de implodir toda a história construída junto.

A cena abaixo é parte da comédia romântica Separados pelo Casamento ( The Break- Up) (Reed, 2006) e retrata um momento tenso mas bastante frequente na convivência entre muitos casais. Confira!

Quem não se comunica…

Não adianta: as pessoas não farão tudo o que queremos, não serão como gostaríamos e muito menos serão capazes de adivinhar nossos pensamentos. Isso é fato! Muitos se identificarão com esta cena porque é representado um drama comum: a falta de diálogo constante. Se tudo for sempre deixado de lado “pra ir levando até onde der” acabará facilmente resultando na explosão de queixas, cobranças, acusações e instaurada a legitimidade do desgaste no relacionamento.

O dinheiro e suas implicações

Além de todas essas dificuldades, a financeira é outro ponto determinante para minar esse período inicial do casamento. Preocupações como controlar e equilibrar as contas a pagar, dívidas e contenção de gastos geralmente exigem flexibilidade, planejamento e compreensão, entretanto pode acontecer de um membro do casal ou ambos não entrar (em) nessa sintonia e assim vai crescendo um clima de grande insatisfação e desequilíbrio emocional.

Juntos e distantes

Nesse sentido, são comuns os relatos: “ não sei o que aconteceu pra gente chegar a esse ponto”; “ não tenho mais vontade de estar perto dele (a), estou com abuso”; “ não conseguimos conversar”, dentre outros. Mesmo no início de uma vida a dois, o relacionamento pode ficar bastante comprometido e o mais intrigante é que aquele casal que compartilhava o ápice da intimidade física tende a se distanciar demasiadamente, sendo algo raro um simples entrelaçar de mãos. Por outro lado, também ocorrem momentos em que o toque e o calor da proximidade do outro são sentidos com frieza e indiferença.

Se a intenção é permanecer junto e realmente dividir alegrias e dissabores a melhor maneira de agir, certamente, não é tornando-se dois estranhos. Alguém tem que tomar a iniciativa para o diálogo, para a aproximação e esse processo tende a ser angustiante e complexo, sendo necessário, muitas vezes, apoio psicoterapêutico.

A terapia de casal

Nesta, é imprescindível que as duas pessoas realmente queiram dar esse passo juntas. Não adianta um estar ali à força, completamente descrente. Nesse tipo de terapia familiar, tudo é trabalhado com ambos os parceiros e o tratamento traz uma possibilidade bastante frutífera para exposição de sentimentos, repensar de atitudes e convicções, enfim, é um momento destinado para o casal se olhar, dialogar, colocar a relação em evidência. O psicólogo intervirá sabiamente no intuito de desenrolar as questões levadas ao consultório, respeitando os limites individuais e também as particularidades do casal.

A partir daí, com o impulso da terapia, o casal terá condições de lidar melhor com os próprios problemas e compreender os pontos críticos. Uma vez estabelecido o diálogo, poderá enxergar diferentes alternativas para os conflitos vivenciados a fim de decidir qual a forma mais próspera e saudável para adotarem à relação, ainda que seja o seu fim.

Portanto, a escolha e disposição para dividir uma vida junto exige das pessoas extremo discernimento para equilibrar a afetividade com toda a dinâmica de gerenciamento do lar, bem como a sensibilidade de procurar auxílio psicológico quando a convivência estiver trazendo sofrimento para a relação.

Referência:

Separados pelo Casamento. Direção de Peyton Reed. Produção de Vince Vaughn. Universal Pictures, 2006. DVD. (106 min). Título original: The Break – Up.