A Psicologia é um campo de conhecimento muito amplo, o qual engloba uma diversidade de subáreas e teorias. Entretanto, é certo que muitas abordagens psicológicas e teóricas acabam recebendo mais reconhecimento e destaque ao redor do mundo do que outras, as quais podem ainda estar em um terreno pouco conhecido pela maioria dos psicólogos e, portanto, lutando para ganhar espaço no mercado e atrair mais adeptos.
Uma abordagem que ainda não é muito estudada no Brasil, mas que já é internacionalmente reconhecida, refere-se à Psicoterapia Integrativa. De acordo com o Instituto de Psicoterapia Integrativa (cujo site é este aqui), “este tipo de psicoterapia procura afirmar o valor inerente de cada indivíduo. É uma psicoterapia unificadora que responde à pessoa nos níveis de funcionamento afetivo, comportamental, cognitivo, fisiológico e que contempla também a dimensão espiritual da vida”.
O termo “integrativa” da Psicoterapia Integrativa tem vários significados. Refere-se, primeiramente, ao processo de integrar a personalidade de modo a religar aspectos fragmentados, não conscientes ou não resolvidos do Self, e possibilitar que façam parte de uma personalidade coesa, reduzindo o uso de mecanismos de defesa que inibem a espontaneidade e limitam a flexibilidade na resolução de problemas, na manutenção da saúde e no relacionamento com as pessoas, e fazendo com que haja uma re-conexão do indivíduo com o mundo em que vive. É o processo de tornar-se inteiro. Através da integração, a pessoa é capaz de encarar cada momento de sua vida de uma maneira aberta e renovada.
“Integrativa” também refere-se à união dos sistemas afetivo, cognitivo, comportamental e fisiológico dentro da pessoa, além dos aspectos sociais e transpessoais dos sistemas que a cercam. Esses conceitos são utilizados em uma perspectiva de desenvolvimento humano, na qual cada fase de vida apresenta tarefas específicas de desenvolvimento, sensibilidades únicas em relação a outras pessoas e oportunidades para novos aprendizados.
Esta abordagem integrativa consiste em uma prática clínica dentro da Psicologia que é centrada no conceito de um relacionamento terapêutico interpessoal que utiliza a técnica do contato como sua principal premissa.
Outras técnicas utilizadas dentro da abordagem dizem respeito ao questionamento, à sintonia (harmonização) e ao envolvimento, os quais constituem os métodos de uma psicoterapia baseada no relacionamento e orientada em direção ao contato entre o terapeuta e o cliente. Estas três técnicas serão melhor explicadas mais adiante.
Indo por este viés, poderá surgir a pergunta: “Mas por que o contato é algo tão importante dentro da clínica e em nossas vidas, de maneira geral?”
Todos sabemos que a necessidade de relacionar-se com o Outro constitui uma experiência primária do comportamento humano, ou seja, algo que requisitamos desde a mais tenra infância. O contato, por sua vez, seja ele físico, comportamental, verbal ou não verbal, é o meio pelo qual esta necessidade é satisfeita. O contato ocorre interna e externamente e envolve a plena consciência de sensações, sentimentos, necessidades, comportamentos, pensamentos e memórias que ocorrem dentro do indivíduo. Quando há contato interno e externo, as experiências são continuamente integradas. Por outro lado, quando o contato é interrompido, as necessidades não são satisfeitas.
A Psicoterapia Integrativa leva em consideração várias perspectivas do funcionamento humano e utiliza-se de diversas outras abordagens clínicas, como, por exemplo, a Psicoterapia Psicodinâmica, a Psicoterapia Comportamental, a Psicoterapia Familiar, a Gestalt-Terapia, a Psicoterapia Corporal de influência Reichiana, a Teoria das Relações de Objeto, a Psicologia Psicanalítica do Self e a Análise Transacional, dentre outras. A lógica integrativa consiste na ideia de que cada uma destas abordagens clínicas e teóricas fornece uma explicação válida a respeito da função psicológica e do comportamento humano e é capaz de ser ampliada e enriquecida quando integrada seletivamente com as outras. As intervenções psicoterapêuticas usadas na Psicoterapia Integrativa são baseadas em pesquisas e em teorias do desenvolvimento que descrevem as defesas que protegem o Self, usadas quando há interrupção no desenvolvimento normal.
O objetivo de uma Psicoterapia Integrativa é facilitar a totalidade, de maneira que a qualidade do ser e do atuar da pessoa no espaço intrapsíquico, interpessoal e sociopolítico seja maximizada, levando em consideração os limites pessoais de cada individuo e as forças externas do ambiente em que vive.
Nesta abordagem é necessário um compromisso pessoal de cada psicoterapeuta integrativo para que sua prática seja bem sucedida. Isto porque é necessário estar sempre atualizando-se e empenhando-se em pesquisar sobre conteúdos e conceitos presentes em diferentes áreas da Psicologia, de modo a reunir o máximo de informações que tornem possível a comparação teórica entre diferentes abordagens psicológicas e, consequentemente, a seleção de qual delas, baseadas no ponto de vista do terapeuta, melhor se adapta às necessidades de cada cliente.a selecionar qual delas melhor se adapta às necessidades de cada cliente.
Como foi dito anteriormente, o questionamento, a sintonia e o envolvimento (Erskine & Trautmann, 1993) são um conjunto de métodos facilitadores do contato, orientados ao relacionamento. Mas a que cada um destes conceitos se refere?
O questionamento parte do pressuposto de que o terapeuta desconhece a experiência do cliente, tendo portanto que buscar, continuamente, entender o sentido subjetivo de seu comportamento e de seus processos intrapsíquicos. Este método inclui a abertura do terapeuta para descobrir a perspectiva do cliente ao mesmo tempo em que este descobre um próprio sentido para si mesmo, por meio de cada uma das afirmativas ou perguntas feitas pelo terapeuta, que são capazes de ampliar a consciência. Através da análise fenomenológica do cliente, este se torna cada vez mais consciente de suas necessidades relacionais atuais e arcaicas, dos seus sentimentos e dos seus comportamentos. O afeto, os pensamentos, as fantasias, os movimentos e tensões corporais, as esperanças e as lembranças há muito mantidas distantes da consciência pela falta de diálogo ou pela repressão podem, então, tornar-se conscientes. Com uma maior consciência e uma inativação das defesas internas, as necessidades e os sentimentos, que podem ter sido fixados e deixados sem resolução devido a experiências passadas, são integrados em um Self e clarificados ao cliente.
A sintonia é um processo de duas partes: começa com a empatia, ou seja, com o fato de um indivíduo estar sempre sensível às sensações, necessidades e sentimentos da outra pessoa, identificando-se com elas, e, em segundo lugar, a comunicação desta sensibilidade para o Outro. Mais do que uma compreensão, a sintonia é uma percepção sinestésica e emocional do Outro, de modo a conhecer seus ritmos, afetos e experiências pelo fato de, metaforicamente, estar “dentro” de sua pele. A sintonia, portanto, é mais do que a empatia: é um processo de comunhão e unidade do contato interpessoal. Entretanto, é sempre necessário que o terapeuta reconheça a fronteira existente entre seus conteúdos internos e os do cliente, procurando sempre saber distinguí-los um do outro para que ambos não se influenciem em excesso e resultem em uma contratransferência prejudicial ao tratamento.
O envolvimento terapêutico.inclui o conceito de reconhecimento do cliente por parte do terapeuta, que começa com uma sintonia ao seu afeto, às suas necessidades relacionais, ao seu ritmo e ao nível do desenvolvimento no qual o cliente funciona. Pela sensibilidade às necessidades relacionais ou às expressões fisiológicas da emoção, o terapeuta pode guiar o cliente para que este se torne consciente de suas necessidades, de seus sentimentos e de suas emoções e para que seja possível, desta forma, expressá-los e reconhecê-los externamente à sua própria pessoa. O reconhecimento do cliente também permite que o terapeuta comunique a ele a existência de movimentos não-verbais, o tensionamento de músculos (que pode ser característico de sintomas de estresse, ansiedade ou desconforto) e outros fenômenos verbais, fisiológicos e emocionais.
Um princípio norteador da Psicoterapia Integrativa orientada ao contato é o respeito pela integridade do cliente. Através do respeito, da bondade, da compaixão e da manutenção do contato, é possível estabelecer um vínculo terapêutico e criar condições para que haja um relacionamento interpessoal com o Outro. Em um estado integrado, o indivíduo sente-se apto a encarar seus problemas e seus relacionamentos interpessoais com mais espontaneidade e flexibilidade, o que o leva a sentir-se bem consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
Concluindo, resta-nos indagar o porquê de esta abordagem ainda ser tão pouco reconhecida dentro da área de Psicologia, uma vez que ela possui um grande potencial prático e teórico, ao meu ponto de vista.
Eu, particularmente, já tive o prazer de experienciar na prática o funcionamento desta linha integrativa, e posso afirmar que, a meu ver, os resultados e a eficiência da mesma não poderiam ter sido melhores! O vínculo criado entre o terapeuta e o cliente, por intermédio da técnica do contato, possui a tendência de consolidar-se muito rapidamente, conforme o psicoterapeuta vai adequando-se ao modo de o cliente comportar-se e expressar-se dentro do consultório, e tudo isto feito com um olhar muito sensível e atento aos mínimos detalhes.
Além disso, a proposta de ser uma abordagem aberta a outras áreas, técnicas e teorias psicológicas apenas agrega riqueza aos seus conteúdos e à sua prática clínica, evitando de fixar-se em somente um referencial prático e teórico, que a tornaria bem mais limitada quanto ao seu alcance terapêutico.
E aí? Curtiram o texto? Quais são suas opiniões sobre o assunto? Deixem seus comentários logo abaixo, contando para nós se vocês fariam o uso da Psicoterapia Integrativa em seus (futuros) consultórios ou se, do lado reverso, vocês possuem interesse ingressar em uma terapia voltada para esta abordagem.
Até a próxima!
Referências:
ERSKINE, R. G.; TRAUTMANN, R. L. Métodos de uma Psicoterapia Integrativa.Transactional Analysis Journal, Vol. 26, n. 4, Out/1996, pp. 316-328. Disponível em: http://www.integrativetherapy.com/pt/articles.php?id=1 Acesso em: 08 de Janeiro de 2016