Este não é um artigo científico, mas um artigo sobre impressões e reflexões. Talvez o que vou falar não agrade a todo mundo, principalmente àqueles que têm feito investimentos na contramão do meu discurso. Porém, se eu conseguir gerar alguma reflexão, me darei por satisfeita.
Estamos vivenciando um momento complicado em nosso país. Enfrentamos uma crise econômica e política sem precedentes. O mercado de trabalho está desaquecido e há muitos desempregados buscando alternativas para se manter. Esse parece ser um dos fatores que está gerando uma onda de profissionais empreendedores, que por meio da criatividade e de sua capacidade de adaptação estão surpreendendo com novas ideias e novas maneiras de se apresentar ao mundo.
Nós, psicólogos, que vivíamos no limite entre nos divulgar ou não, estamos aproveitando essa onda e saindo do anonimato para mostrar à população o nosso trabalho.
A boa notícia é que a crise, aliada ao movimento de divulgação da psicologia e dos psicólogos, tem dado um retorno interessante. Jornais e revistas publicam matérias sobre como o mercado da psicologia clínica cresceu nos últimos tempos. Se antes a psicologia era “coisa de maluco”, agora é a profissão do futuro.
Porém, como dizia o Homem Aranha, com grandes poderem vêm grandes responsabilidades – e eu me questiono com frequência: será que estamos fazendo as coisas da maneira mais correta?
Confesso que sou uma rata de Facebook. Além de divulgar o meu trabalho junto à empresa que criei, mantenho contato com alunos de todo o Brasil, com os colegas e com os professores que já cruzaram comigo em algum momento – além de fazer parte de muitos grupos. Sim, Facebook é importante para o Networking. Porém, o que vejo às vezes me desanima. Me parece que algumas pessoas estão perdendo o bom senso. Me soa que, para alguns, vale tudo pelo marketing.
Essa semana estourou a polêmica do aplicativo que oferece “terapia” por mensagens com acesso liberado ao psicólogo por um preço mensal, mas eu não estou falando só disso.
Eu estou falando do compartilhamento de textos rasos, que fazem a psicologia parecer mais cultura pop do que uma ciência. Falo de psicólogos divulgando sua prática clínica aliada a práticas alternativas, contrariando o código de ética. Me refiro aos profissionais que estão falando de religião em suas páginas voltadas à psicologia.
Isso para não citar o compartilhamento de testes e manuais pirateados em grupos, sem tocar no assunto das “supervisões” públicas de casos que nem sempre garantem o devido sigilo do paciente e nem fornecem as informações necessárias para qualquer conclusão por parte dos “supervisores”.
Quando vejo isso, constato que não são poucos os profissionais que estão colocando a mão na massa sem preparo, conhecimento do código de ética ou orientação. E também não são poucos os que se divulgam diariamente dentro desses padrões complicados citados anteriormente.
Eu entendo que o começo da carreira do psicólogo é difícil e que nem sempre é possível pagar por supervisão, cursos ou terapia. Porém, vocês já pensaram no que, a longo prazo, essa onda de superficialidades pode nos levar?
Quantas vezes vocês já ouviram um amigo, familiar ou paciente dizer que não acredita em psicologia, que já foi ao psicólogo e de nada adiantou? Já pensaram na responsabilidade que cada um de nós tem ao representar nossa profissão diante da sociedade?
Investir em marketing é importante – mas marketing sem conteúdo pode ser complicado. Concordo que ver bons profissionais trancados em seus consultórios vazios é triste, e acredito que esses devem receber orientação e treinamento voltados para o empreendedorismo. Isso me leva a crer que o caminho do meio é o melhor e mais seguro. Marketing e conhecimento teórico/técnico devem andar juntos!
Referências