O que lhe move para seguir em frente? Geralmente as respostas são bastante semelhantes, pois carregam a acepção de satisfação pessoal, felicidade, poder proporcionar o melhor para a família, realização de um grande sonho, dentre outras.
Sim, independente do aspecto almejado, é intenção do ser humano encontrar o seu lugar no mundo, amar, ser amado, sentir-se útil, fazer sentido na vida que leva. Isso é válido ainda que os objetivos tenham origem em um campo de sofrimento, como ter passado por privações, agressões físicas, decepções, dentre uma gama de outras possibilidades. Portanto, o propósito de poder experienciar situações positivas, contrárias às mencionadas, irá habitar a atmosfera dos desejos mais íntimos das pessoas.
O mais interessante e que faz sermos seres tão surpreendentes é justamente em relação à peculiaridade com que cada um utiliza esse potencial mobilizador, COMO e QUANDO faz. Essa dinâmica não é igual em ninguém. Certo, eu sei que você quer ser feliz, quer conquistar isso, aquilo, mas se ficar enraizado, sem ação, vai garantir vaga só na fila da inércia.
Percorrendo o caminho em direção à ação propriamente dita, de fato, tudo começa com o desejo. No entanto, é imprescindível que seja reconhecido corretamente. Acerca disso, Polster & Polster (2001, p. 232) notadamente mostram que
[…] Na falta de um desejo claro, o indivíduo ou se torna imobilizado, ou fica num impasse com um grande conjunto de sensações e sentimentos, ou se torna desorganizado e se envolve numa busca ávida por gratificação, que pode levar à atividade – mas não à gratificação.
Quando um desejo pode ser reconhecido e expresso, a pessoa que o deseja experiencia o senso de acertar o alvo e mover-se para um senso de completude e liberação […].
Realmente, quando buscamos algo em consonância com o que almejamos, o trajeto tende a ser muito mais focado e organizado, apesar dos contratempos. É bem diferente alguém estudar para passar em um concurso cuja pressão parte dos pais do que insistir em uma profissão/trabalho que verdadeiramente deseje para si. É aí que vai fazer toda a diferença a energia da mobilização. Se não me sinto mobilizado, motivado, minha atividade é falha, vazia, desproporcional. Por outro lado, se vivencio um estado de harmonia com meus reais objetivos, minha ação terá outro significado, já que vejo sentido em empenho, renúncia e o que mais exigir de mim na jornada pelo que acredito. A gratificação, como consequência do que faço, terá fundamento.
Existem pessoas que possuem uma energia ativa tão intensa que acabam contagiando todos ao seu redor. Parece uma espécie de fenômeno. Certamente você conhece ou já topou com alguém assim nos corredores da vida. Estou me referindo àquele tipo de pessoa que aparenta fazer malabarismo com os desafios e problemas que tiver de enfrentar. Alguém que transmite a impressão de que há uma força motriz se renovando constantemente em seu interior, capaz de provocar entusiasmo nos que estiverem por perto. Tais pessoas tendem a empreender grandes realizações e tem sede pela continuidade. Não estou falando de um ser perfeitinho! É óbvio que se decepcionam, erram, choram, caem, porém, seu período de recolhimento à dor não costuma durar muito, pois logo encontram razões para levantar e recomeçar, a partir de intensa mobilização.
Opostamente, também há aqueles cuja mobilização não perdura muito porque o estado de ânimo oscila demais ou então não está direcionado corretamente. Dessa maneira, rapidamente tornam-se imobilizados ou fragilmente estimulados. Para alguns, as dificuldades podem se apresentar como um fardo bastante pesado, o que os faz necessitar de demasiado tempo no intuito de contrabalançar a carga para continuar em frente. A terapia tende a ser um meio transformador nesse sentido. Conforme bem explana Polster & Polster (2001, p. 231), na base teórica da Gestalt-terapia:
[…] Talvez os sentimentos existam com relação à coisa errada, ou sejam dirigidos contra a pessoa errada ou mal expressos. A tarefa terapêutica consiste em encontrar a cena correta e desenvolver a força de expressão que combina com a necessidade […].
Há diversos exemplos inspiradores de pessoas que, mesmo em condições adversas, muitas vezes no limite do esgotamento físico e psicológico, realizam a proeza de empreender esforço na busca pelo que consideram importante em suas vidas.
Beethoven, compositor e músico alemão que marcou o século XIX, é um nome emblemático na história da música e da obstinação, pois mesmo enfrentando sérios problemas de saúde, não desistiu de se dedicar ao que realmente gostava de fazer. Ainda jovem, começou a perder a audição e à medida que o problema se agravava, o compositor se isolava socialmente e era acompanhado por crises depressivas. Mesmo quase surdo, no clamor de suas limitações, persistiu e encontrou formas de se expressar através da música, criando sinfonias que o consagraram como gênio da música mundial. Como ele conseguiu? – Muitos se perguntam até hoje.
Mais uma história surpreendente é a do atleta Jamaicano Usain Bolt. Atualmente referenciado como o homem mais veloz do mundo, reinventou a forma de correr e coleciona medalhas nas principais competições de corrida no universo do esporte. Entretanto, devido seu biotipo alto e com mais massa muscular, mostrava-se bem diferente da constituição física dos grandes velocistas. Eis uma das razões para Bolt deixar o mundo boquiaberto, pois ele fez dessa “desvantagem” a sua grande marca como recordista mundial. Assim, criou uma estratégia incrível de largar lentamente e, quando normalmente seus adversários já estão cansados, disparar como um relâmpago. Quanta energia mobilizada! Canalizou sua diferença na mira do seu intento e a transformou em pura autenticidade.
Eu poderia relembrar diversos outros exemplos, mas a intenção foi somente ilustrativa. Mencionei ícones de fácil acesso na mídia, porém também há o Seu Zé, chaveiro, o padeiro daquela delicatessen que você frequenta, seu vizinho, um amigo, familiar e tantos outros. Pessoas que, anonimamente, também vivem histórias árduas e desafiadoras na rota da mobilização interior.
Algo relevante a dizer é que o que me impulsiona para algo possui uma configuração só minha, faz parte da minha forma de sentir, não é igual em ninguém. O que pode ser extremamente instigante na minha vivência pode ser nulo para você, por exemplo. Porém, é fato que mobilizados somos e fazemos mais.
E então finalizo com as palavras de Albert Einsten, cuja história também pode protagonizar neste texto: “Todo mundo é um gênio, mas se você julgar um peixe pela sua capacidade de subir em uma árvore, ele vai gastar toda a sua vida acreditando que é um estúpido”.
Referências:
Disponível em: < http://www.lvbeethoven.com/Bio/BiographyLudwig.html
Disponível em: < http://www.webrun.com.br/h/noticias/veja-o-porque-usain-bolt-e-o-melhor/10019 Polster, E. Polster, M. (2001). Gestalt terapia integrada [trad. Sonia Augusto]. São Paulo: Summus.