Ultimamente, muito se tem discutido sobre Mindfulness em psicoterapia. Esse conceito, também conhecido como Atenção Plena, refere-se a estar consciente da experiência presente, momento a momento, sem julgamento e de forma não reativa na elaboração do conteúdo do que estiver acontecendo. Há inúmeras evidências científicas dos benefícios da prática de Mindfulness, por isso o tema tem sido tão abordado nos últimos anos e surge como uma das principais inovações das Terapias Cognitivas de Terceira Onda. Nesse artigo, discutiremos cinco elementos cruciais para o entendimento do conceito e do processo de Atenção Plena.
1. Mindfulness é uma forma de meditação
O objetivo dessa prática é focar a atenção no momento presente, sem julgamentos ou juízo de valores, a fim de ampliar a consciência ao aprender a ser um espectador dos próprios pensamentos, sentimentos e comportamentos, ao invés de interpretar o mundo através de tais processos internos. Muitas pessoas não conseguem tolerar as emoções negativas, e o Mindfulness ajuda a trazer a compreensão de que os pensamentos e os sentimentos são passageiros, promovendo uma melhor regulação emocional.
2. Mindfulness tem origem milenar
O conceito de Mindfulness vem da filosofia oriental budista. Há indícios de que o que hoje chamamos de Treinamento de Atenção Plena tenha começado há cerca de 2500 anos, com Buda. Na filosofia oriental, Mindfulness pode ser entendido como uma qualidade mental a ser desenvolvida e cultivada através da prática da meditação para se chegar a um desenvolvimento pessoal e espiritual. Já aqui no Ocidente, esse tipo de meditação não necessariamente está vinculado a essa proposta, sendo mais abordado nas psicoterapias.
3. É possível praticar Mindfulness em qualquer lugar
Pode-se praticar Mindfulness por meio da meditação formal (sentada e silenciosa) ou informal (mantendo-se focado no presente durante a realização de tarefas cotidianas, como lavar as mãos, escovar os dentes, tomar banho e comer uma refeição, entre outras possibilidades). Geralmente, o treino da meditação com foco específico (se for formal, focando na respiração ou no escaneamento corporal, por exemplo) é importante para aprender a sustentar a atenção e a tomar consciência do momento presente. Nesse aspecto, a meditação formal oferece a vantagem de promover a disciplina necessária para a aquisição de tais habilidades. Uma vez que a pessoa consegue sustentar sua atenção e manter-se consciente, pode-se praticar um monitoramento aberto à totalidade da experiência do momento presente – o que envolve sensações, pensamentos, sons, e por aí vai.
4. Mindfulness e Terapia Cognitiva têm objetivos em comum
A prática de Mindfulness tem sido inserida nas Terapias Cognitivas por terem em comum a validade científica. As TCC´s são terapias baseadas em evidências, e os estudos realizados com Mindfulness apontam que essa técnica promove muitos benefícios na redução de sintomas depressivos, de ansiedade, de estresse e de insônia, entre outros.
Outro ponto em comum é que ambas as práticas partem do princípio de que a interpretação que o indivíduo faz das coisas e das situações que vivencia determina como sele irá se sentir e como irá agir a respeito. A meditação voltada para a Atenção Plena busca trazer à consciência a noção de que os sentimentos e pensamentos podem surgir e desaparecer naturalmente, sem necessariamente desencadear mais pensamentos ou sentimentos oriundos do apego/perda (no caso de sintomas depressivos) ou da aversão (no caso dos sintomas de ansiedade). Essa mudança na relação com os eventos mentais proporciona uma nova forma de perceber e reagir aos fatos.
5. Mindfulness promove modificações de circuitos neurológicos
As neurociências também têm apresentado resultados interessantes em pesquisas com Mindfulness. De uma forma geral, os estudos apontam que essa prática é capaz de promover mudanças estruturais e funcionais em regiões como o córtex pré-frontal (área de processamento de informações, da regulação da atenção e das funções executivas) e a amígdala (área de ativação de circuitos do medo e da ansiedade). Assim, a Atenção Plena ajuda a desenvolver uma maior habilidade de interromper a elaboração cognitiva de emoções negativas (como a preocupação e a ruminação mental) e a reduzir os sintomas de ansiedade.
Referências:
Melo, W.V. (org) Estratégias Psicoterápicas e a Terceira Onda em Terapias Cognitivas, Novo Hamburgo: Sinopsys, 2014.
Leahy, R.L., Tirch, D., Napolitano, L.A., Regulação emocional em psicoterapia: um guia para o terapeuta cognitivo-comportamental. Porto Alegre: Artmed, 2013.
Roemer, L. e Orsillo, S.M., A Prática da Terapia Cognitivo-Comportamental Baseada em Mindfulness e Aceitação. Porto Alegre: Artmed, 2010.