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Renan Sargiani

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Pátria Educadora para quem?

Postado em 18 de setembro, 2015

bandeira do Brasil

Recentemente (dia 17 de setembro de 2015) o MEC (Ministério da Educação) divulgou os resultados da ANA (Avaliação Nacional de Alfabetização) de 2014. A ANA é uma avaliação diagnóstica para o PNAIC (Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa). Segundo esses dados, ao menos um a cada cinco estudantes no 3º ano do ensino fundamental da escola pública não atinge níveis mínimos em leitura, escrita e em habilidades matemáticas.

Esse número pode parecer pequeno, mas pense que em 2014 o Brasil tinha 3.294.729 estudantes matriculados no 3º ano do fundamental, considerando as redes pública e privadas, nas zonas urbana e rural. Vinte por cento desse número equivale aproximadamente 658.946 crianças que frequentaram 3 anos de escolarização e não adquiriram o básico.

Esses dados apresentados pelo MEC são na melhor das hipóteses terríveis. Imagine que nossas crianças passam por 3 anos de escolarização (isso sem contar as que passaram pela Educação Infantil) e não atingem níveis básicos de leitura e de escrita e conhecimentos numéricos. Quando na realidade após 3 anos eles deveriam estar muito além do nível básico.

Para começar a discussão eu deveria dizer que é uma aberração usar o termo alfabetização para se referir a matemática, mas é isso que o que se faz no Brasil, em que usam o termo bizarro “alfabetização matemática”. Alfabetização não é sinônimo de adquirir conhecimentos básicos, vem de alfabeto e, portanto se refere a aprender a ler e a escrever em um sistema alfabético de escrita. Não tem nada a ver com matemática. Adquirir conhecimentos básicos de matemática, pode ser chamado de numeracia, o que tem uma definição muito mais apropriada para o que querem discutir. Mas enfim, vamos as nossas discussões mais pontuais.

Qualquer pessoa em casa consegue ensinar o básico para que seus filhos aprendam a ler e escrever e em pouco tempo. Mas nas escolas brasileiras em que esse ensino deveria seguir métodos mais eficientes, as crianças simplesmente não aprendem, ou será que não são ensinadas? Ensinadas supostamente elas são o problema então é: como são ensinadas?!

Aprender a ler e escrever em sistemas de escrita como é o caso do português que nem é tão complexo como o inglês deveria ser algo relativamente fácil. Em condições ideais: três meses para aprender o básico (letras e suas correspondências sonoras, decodificação e recodificação), um ano para ler e escrever autonomamente. Em condições mais realistas pelo menos 1 ano e meio para dominar as habilidades de leitura e de escrita. Nada de três anos para não conseguir nem ao menos ler e escrever o básico.

Os dados do MEC mostram uma grande vergonha nacional! E de quem é a culpa? Dos alunos que não aprendem? Claro que não! A culpa está nos métodos espontaneístas, “construtivistas”, pseudo-científicos que predominam na Educação Brasileira. É lamentável o que se faz na Educação, na terra que se intitula “Pátria Educadora”. Tudo o que é sistemático, diretivo e baseado em evidências científicas é mal visto, criticado e ignorado. Aqueles que ousam criticar os modelos predominantes de educação braisleira – baseada em achismos e ideologias – são criticados e rotulados como ruins, arcaicos, errados, “de direita”, retrógrados e reacionários.

Mal sabem eles que estão isolados e enganados, como o bobo da corte que ri e critica os outros, mas não percebe que na verdade ele mesmo era a piada da qual todos riem. Estão enganados e isolados, porque os demais países de economia avançada já superaram há muito tempo esses modelos espontaneístas, os atrasados, então, são eles mesmos. Como se pode pensar que para aprender a ler e a escrever não se deve ensinar as letras? Ora, essa ideia é tão estafurdia que mesmo as crianças ou analfabetos não cometeriam o mesmo equívoco.

O mais cruel é que vendem essas desastrosas ideias e concepções de educação “construtivista” como se fossem a única salvação e a forma para a libertação das crianças de suas condições sociais e econômicas, quando na verdade são a principal forma de torná-los prisioneiros de suas condições, sem a chance de mudar a sua realidade. Presos por não aprenderem o básico que lhes permitiria chegar aos conhecimentos mais complexos.

Privados do básico, as crianças não alçam o complexo. Não se aprende a correr antes de se aprender a andar! Na alfabetização não é diferente: todos precisam e devem aprender primeiro que letras representam sons e como usá-las. Devem aprender isso para ler as palavras e só quando leem palavras com autonomia é que podem compreender textos. Não se aprende a dirigir em plena Marginal, na hora do rush, escutando música e falando ao celular. Nosso cérebro precisa de concentração para realizar as atividades, e precisa de mais atenção justamente no começo da aprendizagem, não dá para focar na leitura e na compreensão ao mesmo tempo. Só depois de ler palavras com sucesso e facilidade é que se pode passar a compreender o que está sendo lido.

Mas, não funciona assim na terra de Cabral. Aqui, os filhos dos pobres devem “construir” a linguagem escrita, não devem ser corrigidos ou ensinados. Eles devem inventar o que se demorou milhares de anos para ser criado. Não podemos ensinar para facilitar a aprendizagem, eles vão descobrir sozinhos, mas e se não descobrirem? Paciência!  Os filhos dos ricos, não, eles devem aprender a ler e a escrever e para isso são ensinados, corrigidos: errar é humano, mas corrigir é necessário, mas isso só vale para ricos, ok? Se não forem ensinados e corrigidos, os pais cobram a escola – é preciso ensinar, estão pagando! Na escola pública ninguém paga? Claro que pagam, todos pagam, mas quem cobra?

Começar a ensinar o alfabeto aos 5 anos para os filhos dos pobres é exigir demais deles, é retirar-lhes o direito a infância! Eles só devem brincar, terão muito tempo para aprender no futuro, tanto tempo que nem aprendem mesmo depois de 9 anos de ensino fundamental e continuam analfabetos e se derem sorte analfabetos funcionais. Aos filhos dos ricos se pode ensinar as primeiras letras aos 3 anos, aos 5 anos já se pode ensinar a ler e a escrever e aos 6 anos já estão em reforço escolar para não ficarem muito atrasados, curiosamente todos continuam a ser crianças e ter infância.

A ciência já mostrou que os primeiros anos de vida são anos essenciais para o desenvolvimento humano, são anos de intensa aprendizagem e o que se aprende nessa época tem efeitos por toda a vida. Então, que a maioria aprenda a brincar, ser criativa, a inventar o jeitinho brasileiro, já que brasileiros gostam mesmo é de samba, futebol e carnaval. Agora as minorias dominantes que aprendam o essencial para que possam se desenvolver plenamente com todas as possibilidades de vida, inclusive a de contratar os demais para festas.

Os filhos dos pobres se beneficiam do mundo letrado que está ao seu redor, nada de memorizar, de ser ensinados e de ter que aprender, nenhum esforço é bem-vindo, eles aprendem a ler o mundo. Eles não sabem ler palavras escritas e textos, mas sabem ler o mundo, é bonito de falar não é? Agora, para os filhos dos ricos, esses devem aprender como é que funciona e se usa o alfabeto para escrever e ler palavras, textos, devem praticar bastante para não ter dificuldades no futuro, rapidamente se tornam autônomos e leem por conta própria aprendendo cada vez mais e melhor.

Os filhos dos pobres precisam de significados, de textos, de cultura, nada de coisas chatas como os nomes das letras. Para que aprender a ler qualquer palavra independentemente do contexto? Eles têm que aprender a ler só o que é do contexto (concreto) deles, ensine o que é “pão”, “pedreiro”, “casa”, a lista do supermercado, não vão sair da sua condição de pobres mesmo! Deixem que os filhos dos ricos pensem em abstrações, eles sabem o que é “abajur”, “avião”, “Europa” e podem aprender sobre Marx e como salvar os pobres. Eles começaram pelo chato e básico, mas isso é o começo, como já aprenderam a ler, podem ler por si mesmos e conhecer o que quiserem.

Liberdade ainda que tardia, mas só para aqueles que podem alçar voos livres por terem bases sólidas, os demais presos na concretude de seu mundo letrado, “constroem” a realidade, “constroem” significados, “constroem” casas, “constroem” prédios e continuam seguindo a ordem e ajudando no progresso da nação, danação. As pequenas diferenças do começo se tornam abismos gigantescos e intransponíveis que aumentam cada vez mais. O efeito Matheus existe para todos: os que tem menos ficam com menos e os que tem mais ficam com mais. Os que tem mais dificuldades acumulam cada vez mais dificuldades, e os que tem mais vantagens, facilidades, acumulam mais benefícios.

Todas essas bizarrices acontecem e são disseminadas e multiplicadas camufladamente na linguagem dos falsos salvadores da educação, ou será da Pátria? Vão discutindo coisas “super” importantes, como se devem chamar alunos de “alunos”, “crianças”, “educandos”, “aprendizes” ou “estudantes”. Vão discutindo a aparência do bolo, para que ninguém perceba o quanto o gosto do recheio é ruim e o cheiro é fétido. Vão sendo politicamente corretos e censuradores que ditam o que é ser revolucionário ou reacionário (tradicional). Vão enganando as pessoas com termos difíceis que não serão entendidos, e por não serem entendidos serão aceitos pacificamente, já que aquele que não entendeu não questiona, “o erro é meu que não entendi, não de quem não conseguiu me explicar”. Vão colocando e tirando funções na escola, socializar, incluir, mediar, libertar, mas ninguém vai falar de como se aprende ou de como se ensinar, ok?

Os lobos verborrágicos se escondem sob a pele de cordeiro da salvação. Aqueles que defendem métodos de ensino espontaneístas, são os primeiros a colocar seus filhos em escolas que realmente ensinam (ou são cobradas a ensinar). Não queremos metas! Vamos ser livres de metas, mas se for para os meus eu quero que cumpram as metas e até dobrem as metas. Para os demais que fiquem no básico mesmo, isso se conseguirem.

Independência ou Morte, Educação ou Sorte! Ou a Educação no Brasil passa a incorporar conhecimentos científicos e para de se basear em achismos e ideologias de botequim ou não teremos um futuro para nos orgulharmos. Considerar que os aprendizes tem um papel central na educação é fundamental, o que não se pode é oferecer caviar para uns e farelos para os outros. Na saúde uma má decisão mata instantemente, na educação pode demorar mais tempo, mas com certeza vai prejudicar muito mais pessoas.

Ah, vale lembrar que ano que vem não veremos esses resultados tão ruins. Não é que as coisas irão se resolver, mas o MEC já cancelou a avaliação de 2015, e nem é por “falta de dinheiro”, são problemas pedagógicos. É claro, além de tudo avaliações não são algo que os lobos recomendam: é ruim padronizar, avaliações padronizadas não revelam a realidade, mas os uniformes são tão bonitos que dá gosto ver todo mundo usando a mesma roupa.

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