Um artigo científico tem como propósito divulgar os resultados de um determinado trabalho, o qual pode ser teórico/conceitual, de revisão ou experimental. Dentro da Psicologia os temas abordados são extremamente variados e as normas das revistas seguem nessa mesma direção. Cada veículo de publicação possui diretrizes específicas, portanto, é importante conhecê-las para que se escolha o periódico que pode privilegiar as características do seu manuscrito. No entanto, antes de chegar nesse passo, será preciso ter o conteúdo que subsidiará sua escrita definido e o mais importante, escrever o artigo.
Algumas questões podem ajudar a nortear a estrutura do artigo científico:
- Qual é o meu objetivo?
- Qual é o meu propósito com esse texto?
- Quais informações são indispensáveis para que o trabalho fique claro?
- Que temas devem compor a introdução?
- Caso exista o tópico “método” como devo descrevê-lo para que outros psicólogos tenham condições de reproduzir ou avaliar o que fiz?
- Quais são os meus resultados? Posso apresentá-los por meio de tabelas ou figuras para facilitar a exposição dos mesmos?
- Olhando para os meus resultados e para o que já foi produzido na área, o que é possível articular na discussão?
- Há considerações a serem feitas acerca do meu trabalho que podem finalizar o texto? Cheguei a alguma conclusão que merece ser evidenciada?
- Quais são as limitações da minha pesquisa?
Essas indagações são apenas um roteiro, cada autor pode alterá-las ou utilizá-las do modo que for mais útil para si. O importante é que se tenha conhecimento acerca do que se pretende expor. Enquanto as informações não estão minimamente organizadas, escrever um artigo científico pode parecer uma atividade muito complicada, mas a partir do momento que as respostas a essas questões vão sendo definidas, o manuscrito começa a ganhar contorno e o escritor está em melhor condições de fazer com que as palavras assumam o seu papel.
Escrever, de fato, não é uma tarefa simples, exige compromisso para com o leitor. Contudo, também não é impossível. Algumas pessoas têm mais facilidade, enquanto outras demandam mais tempo e treino para produzir textos de qualidade. A dica é: escreva e reescreva quantas vezes for necessário. Não economize em lápis e borracha ou no tempo digitando e apagando. Só se aprende a escrever, escrevendo. Leia e releia. Exercite se perguntar se outra pessoa conseguiria compreender o que foi escrito, se a pontuação contribui para o fluxo da leitura e se a ordem das palavras e ideias faz sentido. Se for possível, peça que alguém revise. Geralmente, os artigos científicos são produzidos por vários autores, o que permite que o trabalho passe por reformulações a partir da leitura dos demais.
É notável que a exigência por publicações é cada vez mais intensa, seja na graduação, na pós-graduação ou para os docentes e pesquisadores. Contudo, não tenha pressa. Qual o propósito de escrever um artigo científico em larga escala se isso prejudicar a qualidade do conteúdo produzido? Afinal, escreve-se para que e para quem? A produção científica na área da Psicologia e também em tantas outras tem a função de fomentar discussões e contribuir para o avanço da teoria e da prática. O psicólogo que está no laboratório e aquele que atua na área aplicada podem ter acesso ao espaço um do outro por meio das publicações de ambos. O objetivo maior dessa ponte é a formação dos profissionais e o oferecimento de um trabalho de maior qualidade para as pessoas. Pense o quanto o seu artigo está nessa direção. Afinal, não se trata de escrever por escrever. De publicar apenas para aumentar o Currículo Lattes.
Por isso, ao escolher a revista, avalie para quem você escreveu. Para qual publico seu trabalho seria mais útil? Quem você gostaria que lesse seu artigo científico? Se a resposta for estudantes de psicologia, a linguagem adotada provavelmente será menos técnica e a revista selecionada de fácil acesso para essa população. Se a resposta for doutores da área, tanto do Brasil, quanto de outros países talvez sejam mais indicados periódicos internacionais ou com a tradução do manuscrito completo para outros idiomas.
Outro ponto importante consiste em verificar o tempo que a revista leva para avaliar o manuscrito e publicá-lo, quando aprovado. Embora nem todas as revistas informem esse prazo, é possível ter uma ideia observando os artigos do periódico. Geralmente há uma descrição de quando o artigo foi recebido, a data das revisões e do aceite. Conversar com pessoas que já submeteram trabalhos na revista escolhida também é uma alternativa. Existem grupos nas redes sociais que os membros trocam informações a esse respeito.
O Qualis do periódico representa uma medida da CAPES que avalia o nível da produção intelectual. As classificações são A1, a mais elevada; A2; B1; B2; B3; B4; B5 e C. Para ter acesso a esse dado ao clicar no link https://sucupira.capes.gov.br/sucupira/public/consultas/coleta/veiculoPublicacaoQualis/listaConsultaGeralPeriodicos.jsf escolha a área de concentração Psicologia. As revistas com índices mais altos tendem a ser mais rigorosas. Contudo, aquelas que apresentam uma classificação menor nem sempre são pouco criteriosas, justamente por buscarem atingir uma pontuação melhor.
Independentemente do nível de rigor do periódico o primeiro passo para aumentar as chances de um parecer favorável consiste em seguir adequadamente as diretrizes para os autores. Procure observar qual padrão de normatização é solicitado, se APA, ABNT ou outro modelo. Fique atento às exigências quanto às referências bibliográficas. Verifique o limite de páginas, quais as orientações quanto à apresentação de figuras e tabelas, como deve ser feito o resumo e se esse deve também ser traduzido para inglês e espanhol. Se for preciso, consulte um bibliotecário ou algum profissional da área que possa fazer a conferência desses aspectos. Não se esqueça de providenciar a documentação solicitada pela revista, é comum que peçam uma carta de direitos autorais e algumas requerem, até mesmo, a aprovação do Comitê de Ética.
Chegar a versão final do artigo e realizar a submissão ao periódico desejado são etapas importantes, significam que avançou muito desde o início do processo. Contudo, ainda há um caminho a percorrer. Infelizmente, os pareceres costumam levar algum tempo. Nesse caso, o que nos resta é esperar. Caso o periódico demore muito mais do que está disposto a aguardar, pode entrar em contato solicitando o cancelamento da avaliação e realizar a submissão em outro.
Quanto ao parecer, esse pode ser favorável, pode solicitar reformulações para que seja aprovado ou pode ser desfavorável, não autorizando a publicação. Na primeira situação, continuará a espera, só que pela publicação. Já pode comemorar, inclusive, atualizar seu Currículo Lattes na opção “artigos aceitos para publicação”. A segunda opção é a mais frequente nos casos de aprovação. A perspectiva é otimista, vale a pena investir mais um pouco em seu artigo. No último, leia os comentários dos pareceristas, avaliem quais deles podem te ajudar a melhorar o material, para que possa fazer a submissão novamente, seja no mesmo periódico ou não. A principal dica é não desistir. Não é fácil passar pela recusa, a vontade inicial talvez seja abandonar a ideia, engavetar o que foi escrito. Resgate o objetivo, reflita sobre a motivação para dedicar-se àquele trabalho e encontrará meios para continuar.
As palavras, especialmente em sua versão escrita, têm o poder de transpor barreiras de tempo e espaço. Você, aqui no Brasil, pode ter acesso a trabalhos produzidos em diferentes cantos do mundo, pode ler artigos que datam antes do seu nascimento. O avanço da Psicologia e da ciência, como um todo, deve-se ao acúmulo de conhecimento ao longo da história. Como sinalizou Isaac Newton “se vi mais longe foi por estar de pé sobre ombro de gigantes”. Se em períodos remotos tanto se descobriu com uma tecnologia tão limitada, imagine onde se pode chegar com os recursos disponíveis atualmente. Lembre-se que ao pensar, repensar, construir, reconstruir, pesquisar, atuar e escrever, você também se torna autor desse processo.
Dica de livros sobre o assunto: