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Como é a Terapia de Casais na Terapia Cognitivo-Comportamental

Como é a Terapia de Casais na Terapia Cognitivo-Comportamental

Antigamente, quando as pessoas se casavam costumavam acreditar que seria para a vida toda. Muitas vezes, os pais e avós, já bem velhinhos, ainda formavam um casal que causava inveja em muita gente. Por mais que ocorressem brigas ou discussões, a impressão que passava era a de que o amor prevalecia. Porém, hoje em dia, relacionamentos (de papel passado ou não) começam e terminam numa dinâmica diferente. E como todo término, esse processo pode ser doloroso para ambas as partes.

Mas o que são os relacionamentos?

A sociedade nos passa uma noção muitas vezes idealizada e irreal a respeito do que é um casal. Seja por observarmos nossa própria família ou por aprendermos observando outras referências, formamos crenças acerca de um relacionamento ideal. Desde jovens, costumamos ter em mente quais as qualidades que nossos parceiros devem ter. Essas crenças, muitas vezes distorcidas, nos distanciam do relacionamento real que temos em casa. Passamos a pensar em termos do que gostaríamos que o outro fosse, ao invés de nos atentarmos, aceitarmos e lidarmos com quem ele é realmente e, uma vez que passamos a pensar nesses termos, problemas conjugais podem surgir.

Todo mundo tem seu sistema de crenças e valores individual, incluindo as experiências passadas e os projetos de vida. Porém, num casal, não há a possibilidade de se considerar apenas uma das partes. As crenças e valores de ambos os cônjuges se somam, criando um terceiro sistema diferente dos outros dois. Lidar com essa diferença exige um pouco de sacrifício de ambas as partes, que com carinho, intimidade, respeito e muito diálogo passam a valer a pena.

A partir das crenças sobre como seria o relacionamento ideal, as pessoas se utilizam de estratégias para encontrarem o parceiro certo. Uma delas é prestar mais atenção a detalhes que agradam, deixando de lado os que não agradam. Assim, é comum que o companheiro sempre tenha tido certas características que, no começo do namoro, a pessoa não percebeu e que com o passar dos anos passou a ser irritante. Ao invés de olhar o todo e aprender a aceitar o companheiro, a pessoa continuou com a imagem idealizada dele, frustrada por não ter se relacionado com quem ela queria que ele fosse.

Os problemas mais comuns

Muitas vezes, quando um casal procura por terapia, os cônjuges reconhecem uma dificuldade de relacionamento, mas ainda não têm em mente se a melhor solução é manter a relação ou optar pela separação – durante ou após o processo terapêutico algumas dessas perguntas começam a tomar forma ou a ser respondidas. Os problemas que os levam a esse ponto geralmente são relacionados às seguintes causas: falhas de comunicação, inaptidão para resolver problemas em conjunto, expectativas irrealistas e crenças e pensamentos distorcidos e irracionais a acerca do relacionamento e/ou do outro.

Os problemas relacionados à comunicação podem ser gerados por pequenos comportamentos que passam a ocorrer com o passar do tempo, como não manter contato visual e não demonstrar atenção ao discurso do parceiro. Esses comportamentos dão a entender ao outro falta de interesse, o que magoa. A dificuldade de expressão de sentimentos e pensamentos por receio de ser ridicularizado ou retaliado também é uma das principais causas de ruídos na comunicação de casais. Para um casal ser harmônico, ambas as partes devem se sentir à vontade para serem assertivas entre si, ou seja, falar honestamente sobre seus sentimentos e pensamentos sem passar por cima do outro.

Os problemas relacionados à resolução de problemas muitas vezes não estão ligados aos problemas em si, mas na dificuldade que o casal tem para gerenciá-los e enfrentá-los. A ineficácia em resolver pequenas questões diárias podem gerar um acúmulo de problemas e desgastar a relação. Esse tipo de situação é comum, por exemplo, em casais em que um dos cônjuges é muito exigente e o outro mais retraído, em que um dos dois está mais voltado para o trabalho e o outro para o relacionamento ou quando um é mais emotivo e o outro mais racional.

Por fim, a forma como cada uma das partes interpreta o relacionamento e as qualidades e defeitos do parceiro podem influenciar bastante em uma crise de casal. Por conta de nossas idealizações do que seria uma relação perfeita, muitas vezes não reconhecemos as qualidades e defeitos de nossos parceiros, o que gera um grande problema. Muitos cônjuges frustrados, após algum período na terapia, compreendem que seus pensamentos negativos relativos ao companheiro eram, na realidade, gerados por crenças e pensamentos radicais sobre quem o outro é e o que ele quer.

A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) com Casais

Pode-se reparar que casais em crise geralmente apresentam uma mistura desses problemas. Quando chegam ao ponto de procurar a terapia é porque a comunicação em casa já não está funcionando, já não conseguem trabalhar em equipe e já não estão com bons pensamentos uns dos outros. A terapia de casais visa justamente identificar tais problemas e, por meio de técnicas tradicionais da TCC, ajudar a resolvê-los.

A primeira fase da terapia é chamada de avaliação. Nessa fase, o terapeuta irá investigar como está o funcionamento do casal e quais as crenças e expectativas de ambas as partes sobre si mesmas, o outro e o futuro. Para isso, ele poderá agendar sessões com o casal e com cada cônjuge separadamente. O uso de inventários para mapear questões que não sejam relatadas em sessão também é bastante comum.

Passada esta etapa, o terapeuta geralmente dá um retorno ao casal em relação ao que foi detectado nas primeiras sessões. É nessa fase que ele explicará como será a terapia e quais os principais pontos que serão abordados. Assim, como em sessões individuais de TCC, a proposta é que os encontros sejam estruturados e que técnicas sejam ensinadas para que o casal aprenda a resolver seus problemas – sejam eles de qualquer natureza – sozinhos. Também é bastante comum que tarefas de casa sejam prescritas para manter o casal ativo em terapia mesmo quando longe do consultório.

É bastante comum que, decorrente do desgaste do relacionamento ou não, uma das partes esteja mais sensível que a outra. O fato de a pessoa fazer terapia de casais não exclui a possibilidade de que ela faça terapia individual com outro profissional. Às vezes, elas nem chegam a ir com os companheiros para a terapia. Recebo frequentemente em meu consultório pessoas que buscam a terapia individual por dificuldades de relacionamento. É interessante salientar que, nesses casos, muitas vezes ao se sentirem bem consigo mesmas, essas pessoas aprendem a resolver problemas conjugais que antes não conseguiam, restaurando relações anteriormente complicadas. Por isso, fecho o texto com a seguinte citação:

“O primeiro caso de amor que devemos consumar de modo bem sucedido é o romance conosco mesmos. Só depois é que estamos prontos para uma relação com outra pessoa. Se não me sentir capaz de ser amado, acharei um modo de sabotar a minha felicidade, porque sentirei que não a mereço”.Branden, 1997 (in RANGÉ, 2001).

Referências:

Lopes, J.M. et al. “O desafio da escolha e a arte de conviver: algumas considerações sobre a Terapia Cognitivo-Comportamental com casais” in Piccoloto, N.M., Wainer, R. e Piccoloto, L.B., Tópicos Especiais em Terapia Cognitivo-Comportamental”, São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007.a

Moraes, C.G. e Rodrigues, A.S., “Terapia de Casais” in Rangé, B.P. (org.), “Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais: um diálogo com a psiquiatria”, Porto Alegre: Artmed, 2001.

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