Escrevi uma carta ao tempo, e sem muitos galanteios, lhe perguntei qual era o tempo necessário para se conhecer as respostas da vida. Nas linhas que escrevi perguntei, ao inexorável tempo, quanto dele era preciso para se apagarem as angústias, curarem as feridas, as dores, perdoar os desafetos, esquecer os amores.
Enquanto escrevia percebia o tempo passar por mim, tanta vida, tantos sonhos, tantas alegrias, tantas dores, tantos desejos, tanto tempo! Tudo a minha volta me fazia pensar no tempo que passava: o relógio em meu pulso, o sol que cedia espaço para a lua e as estrelas. Meus olhos cansados começavam a pensar se não seria tempo perdido escrever tal carta. Nesse instante outra reflexão me veio à mente e logo me pus a escrevê-la: perguntei ao tempo se pode mesmo qualquer tempo gasto ser um tempo perdido?
Após escrever a carta, li e reli várias vezes, pois, não queria ofender o tempo, nem que perdesse o seu precioso tempo comigo. Lacrei minhas mal traçadas linhas em um envelope branco com meu nome de remetente e lancei ao vento pedindo que o entregasse ao seu destinatário. Pedi atenção ao vento, por levar consigo minhas angústias, dores e esperanças de respostas que me confortassem.
O tempo passou e o tempo não me deu respostas, não leu minha carta, não me mandou um sinal, não me avisou que mandaria. O tempo não me deu o alivio que pedi, não me apagou as dores que senti, o tempo não me consolou, não me ajudou a dormir. Onde é que está o tempo que não me responde mesmo estando em tantos lugares? Será o silêncio a forma que ele encontrou para me responder? Será que ele precisa de tempo para me mandar às respostas que lhe pedi? Tempo, meu velho amigo, não me abandone agora que preciso de você, preciso de uma palavra de conforto, onde está você?
O tempo passou mais ainda e dessa vez não me trouxe respostas, mas demorou tanto que me fez descobrir as respostas que eu queria. Aprendi com o tempo a valorizar o que sentia e pensava, aprendi que eu mesmo podia encontrar as respostas que eu procurava. Aprendi com ele que não há tempo que apague as angústias, que cure as feridas, as dores. Não há tempo para perdoar os desafetos ou para esquecer os amores.
Aprendi que nós que criamos o tempo e, então, todo momento é tempo de mudar algo e fazer aquilo que se deseja. As angustias e dores se convertem em experiência e os desafetos e amores se transformam em lembranças ou tomam outros caminhos. E mesmo que não acertemos, aprendi que nunca será tempo perdido, se foi o tempo que precisamos. O tempo, enfim me respondeu, não como eu esperava, mas como o tempo achou melhor. De uma forma ou de outra o tempo sempre responde as nossas angústias afinal.