O cérebro é, sem dúvidas, um dos órgãos mais fascinantes do corpo humano. Devido a sua importância existem muitos mistérios sobre como ele é capaz de controlar todo o corpo humano e ainda ser responsável pelo que chamamos de mente ou processos mentais. Como existem mistérios não totalmente esclarecidos também existem muitos mitos explicativos sobre o cérebro e seu funcionamento. Um dos mitos mais divulgados é o de que nós utilizamos apenas 10% de nosso cérebro.
De onde vem o mito?
Existem várias explicações para o surgimento desse mito. Alguns defendem que o primeiro a falar sobre esse potencial oculto foi o psicólogo americano William James. No final do século 19, ele escreveu: “Estamos fazendo uso de apenas uma pequena parte de nossos recursos mentais e físicos”. Essa afirmação dava a entender que se utilizamos apenas uma pequena parte de nosso potencial significa que temos muito potencial ainda não utilizado. Outros contam a lenda de que Einstein teria dito certa vez que era mais brilhante que as demais pessoas por ter utilizado mais do que 10% de seu cérebro (Wanjek,2003).
Algumas das primeiras raízes desse mito parecem vir, na verdade, do trabalho feito por fisiologistas na década de 1870. Eles costumavam aplicar correntes de energia elétrica ao cérebro para ver quais os músculos que se movia. Eles descobriram que grandes partes do cérebro humano pode receber estimulação elétrica sem contrair nenhum músculo correspondente. Essa descoberta levou os fisiologistas a afirmarem que o cérebro tem uma parte “silenciosa”, no sentido de que não produzem movimentos, mas no decorrer da história esse termo foi mal interpretado dando a entender que era “silenciosa” por estar inativa.
Porque esse mito é falso?
Seja qual for a origem desse mito o fato é que a ideia de que usamos apenas 10% de nosso cérebro não encontra evidências em seu favor. Esse mito talvez permaneça ainda porque é reconfortante pensar que temos a capacidade de reposição. O ‘não utilizado’ de 90% poderia permitir com folga a reposição do perdido após uma lesão cerebral ou oferecer a possibilidade milagrosa de auto-aperfeiçoamento. Assim, este mito tem sido amplamente utilizado não só para vender produtos para melhorar o desempenho do nosso cérebro, mas também por médiuns como Yuri Geller para explicar “poderes” como conseguir entortar talheres (Dean, 2008).
Veja abaixo 5 boas razões para dizer que essa ideia é provavelmente falsa (Beyerstein, 1999):
- Se o mito dos 10% mito fosse verdadeiro, as pessoas que sofrem danos cerebrais como resultado de um acidente ou derrame provavelmente não notariam qualquer efeito da lesão. Na realidade, não existe uma única área do cérebro que possa ser danificada, sem resultar numa espécie de consequência.
- De uma perspectiva evolucionista, é altamente improvável que nós desenvolvemos um órgão de que consome cerca de 20% da energia do corpo, uma parcela tão grande de nossos recursos energéticos, para o funcionamento de uma quantidade minúscula do cérebro.
- Imagens do cérebro, feitas por exames como CAT, PET e fMRI mostram que, mesmo durante o sono não existem quaisquer áreas do nosso cérebro que estão completamente “desligadas”.
- Os exames de imagem mostram que todas as regiões do cérebro estão ativas durante a execução de tarefas, mesmo aquelas que fazemos com mais frequência como andar, falar e ouvir músicas.
- Nenhum estudo sobre a estrutura do cérebro e os seus processos metabólicos, em condição normal ou patológica, tem sugerido que há 90% de funcionamento escondido que não estamos usando.
Antes de terminar, preciso lembrar também que esse mito é confundido com a ideia de inconsciente freudiano, isto é, de que boa parte de nossos comportamentos e pensamentos têm origens que são ocultas. Cabe apenas ressaltar que isso não significa que utilizemos apenas 10% de nosso cérebro, mas sim que existem processos cognitivos que não atingem o limiar de consciência. Além do mais como saber se o que é consciente ou inconsciente ocupa 10%, 20%, 30% ou 60% de nosso cérebro? Após esses argumentos todos, você ainda pensa que nós usamos apenas 10% do nosso cérebro?
Referências
Beyerstein, B. L. (1999). Pseudoscience and the brain: tuners and tonics for aspiring superhumans. In: S. Della Sala (Ed.). Mind myths: Exploring popular assumptions about the mind and brain. London: John Wiley & Sons. Wanjek, C. (2003). Bad medicine: misconceptions and misuses revealed, from distance healing to vitamin o. London: John Wiley & Sons. http://www.spring.org.uk/2008/02/seriously-would-you-admit-to-only-using.php Dean, J. (2008). Seriously, Would You Admit to Only Using 10% of Your Brain? http://www.spring.org.uk/2008/02/seriously-would-you-admit-to-only-using.php