Envolto em uma série de reflexões atuais que tem me ocorrido recentemente, reli um texto já um pouco velho (essa adjetivação é necessária pelo tema do post), mas que continua atual. Como já devo ter despertado a sua curiosidade agora, vou logo adiantar o tema do post: “Tempo, tempo, tempo… és um dos deuses mais lindos…compositor de destinos” (Caetano Veloso), esse é o tema de hoje, o tempo!
O texto que mencionei tratava de algo muito interessante (para mim) que é a diferença entre o tempo cronológico (objetivo), o tempo subjetivo e o tempo jurídico. Escrevi aquele texto especificamente para tratar de adoção, um tema que me é muito caro e que tenho discutido recentemente com minha querida amiga Elisa Bernardes.
Bom, e sobre o que me coloco a escrever então? O que quero é refletir sobre meu arqui-inimigo de sempre: o tempo! Não farei uma grande discussão, o que quero é apenas falar um pouco desses conceitos que já mencionei, enquanto me recupero dessa gripe (passa logo tempo!). Então vamos lá! Sabe aquela vontade de não ir embora de um lugar agradável, de não acabar uma conversa interessante, vontade de não sair de perto de uma pessoa querida? Quem nunca achou que as horas passaram rápido demais em uma ótima companhia? Ainda que possa parecer passar depressa, nesses “breves” intervalos de tempo, os segundos também possam valer pela eternidade, quantas eternidades cabem em um segundo de alegria? E aquele sentimento/desejo de que o tempo parasse rápido ou ainda de voltar no tempo? Pois bem, embora o relógio demonstre que um minuto continua tendo 60 segundos sempre, nosso sentimento é de que cada minuto às vezes passa muito depressa, às vezes demora a passar.
O relógio que não mente (ou será que mente?) mostra o tempo cronológico, objetivo, já a nossa percepção envolta pelas emoções expressa o tempo subjetivo. A diferença principal é que o tempo cronológico não existe, foi criado; inventado porque é necessário, mas por isso tem esse descompasso com o tempo subjetivo que é só nosso. O mesmo vale para as coisas ruins é claro, quem nunca esteve em um lugar chato e sentiu que as horas pareciam não passar? Quem nunca correu contra o tempo? A equação é injusta, mas seria mais ou menos assim: Situação Prazerosa = Tempo acelera; Situação desagradável = Tempo congela, ou ainda a velocidade do tempo é inversamente proporcional ao prazer que sentimos (nossa essa eu caprichei!).
O tempo jurídico por sua vez se refere aos prazos de tramitação dos processos judiciais, no caso quando eu escrevi o texto sobre adoção que me inspirou a escrever esse, eu falava sobre os tempos envolvidos no processo de adoção. Imagine uma criança que quer/espera ser adotada, um casal que quer adotar, a justiça que tem seus próprios e longos prazos, os dias que correm, os meses e os anos de espera(nça), quantas esperanças depositadas no tempo, não é? As expectativas são muitas, esperar é difícil, quão bom seria se o tempo fosse somente subjetivo e a nosso favor não é mesmo? De fato o tempo ajuda em algumas coisas, atrapalha em muitas outras. Como sabiamente definiu Carlos Drummond “Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.”
Em um texto bem mais velhinho que eu escrevi ainda na adolescência, eu disse que “a espera é que nos mata”, acho que hoje eu reescreveria (e estou fazendo isso agora, não é mesmo?), complementando: a espera é o que nos mata e também o que nos move! Drummond não termina seu poema com pessimismo, ele complementa brilhantemente “Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui para diante tudo vai ser diferente.”
Como disse uma adorável menina de 6 anos para mim ontem: “eu não sei quanto tempo dura uma semana?! [7 dias] Ah, mas depende, às vezes parece que demoram mais dias e às vezes dura pouquinho, depende do que a gente gosta, né?! É igual o recreio que acaba rapidinho e a aula que demora muitão”. (sábias as crianças não é Júlia Migot?). Acho que do alto de seus 6 anos ela resumiu muito bem o que estou querendo dizer com esse longo texto, o tempo, para além do cronológico, depende muito de quem o vivencia e do que queremos, gostamos. Infinitas coisas cabem num espaço de tempo tão curto, em milésimos de segundos podemos pensar em nossa vida toda, em milésimos de segundo tudo pode mudar. Aproveitemos então o tempo que temos, afinal o tempo a gente cria.
Alice: Quanto tempo dura o eterno? Coelho: Às vezes apenas um segundo. (Alice no país das maravilhas – Lewis Carroll)