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Renata Rolin

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Você vive nas redes sociais virtuais? Desalinhos entre o real e o virtual

Postado em 5 de agosto, 2015

redes sociais

Tenho observado bastante o movimento frenético de exposição da vida nas redes sociais virtuais, em especial no Facebook e Instagram. Diante de tanta velocidade na era da informação instantânea, todos nós somos capturados por essa tendência global que transporta as experiências para os clicks.

É fato que o acesso à internet facilita e agiliza a nossa vida em diversos aspectos, tais como pesquisa, trabalho, entretenimento, comunicação com pessoas distantes, dentre outros. Talvez você não estivesse lendo esse artigo agora se não lhe fosse tão acessível, certo?

Compartilhar a intimidade até não poder mais…

Percebo que, para muitas pessoas, há uma espécie de tendência em exibir (escancarar mesmo!) as experiências, sensações, os pensamentos e o que mais estiverem dispostas a tornar público.

Então você deve estar pensando exatamente agora: “ O perfil é meu, a vida é minha e estou em um país livre e democrático! Qual o problema de eu expor a minha vida? ” Calma! Não interprete por esse caminho. Você tem toda razão e pode mostrar ao mundo inteiro o que quiser, desde o que foi o seu café da manhã até o seu boa noite, já de pijama. A questão é se já parou pra pensar nos impactos que podem afetar a sua privacidade, intimidade, família e outras áreas importantes do seu convívio.

Você já postou algo totalmente contraditório ao que estava sentindo?

O ponto que chamo atenção é em relação a incongruência entre o que se mostra e a realidade. Recentemente, ouvi um relato de que a pessoa em questão só era feliz em seus perfis virtuais, já que tudo compartilhado era referenciando uma vida perfeita. Porém, em seu interior, prevalecia uma série de insatisfações que culminavam em angústia. Esta era sentida com tamanha intensidade que necessitava compensar sua desproporção evidenciando via Web uma realidade desejada, porém completamente irreal.

Nesse caso, o sofrimento psíquico tende a acentuar-se ainda mais, principalmente se o acesso às redes virtuais for excessivo, ávido por consultar a felicidade alheia.

A rede de contatos e sua relevância

Eis aí algo extremamente importante para a saúde psicológica. Esta rede é um terreno de trocas das mais diversas esferas e nós necessitamos do outro e do que vem do outro para agregarmos qualidade às nossas relações. Em contrapartida, às vezes parece que um pouco dessa comunicação autêntica tem sofrido perdas, considerando a praticidade do ambiente on-line.

Suponhamos que você (pessoa física, cidadão comum) tenha 300 amigos no Facebook e 250 seguidores no Instagram. Dessa imensa quantidade de “amigos”, quantos você convida para comemorarem seu aniversário? Quantos você chama para mostrar sua mais nova conquista? Tomar um café, jogar conversa fora?

A maioria das respostas deve exibir um quantitativo bem diferente, já que entram em cena outras dimensões como afinidade, proximidade, história de vida junto e uma pilha de eteceteras.

Laços instáveis

É nesse sentido que Bauman (2004) aborda uma reflexão acerca da fragilidade dos laços em meio a um universo virtual multifacetado de possibilidades. Pondera que “ O advento da proximidade virtual torna as conexões humanas simultaneamente mais frequentes e mais banais, mais intensas e mais breves”(pág. 38).

Segundo sua ótica, dentro desse universo parece haver uma ruptura entre comunicação e relacionamento. “ Estar conectado é menos custoso que estar engajado – mas também consideravelmente menos produtivo em termos da construção e manutenção de vínculos” (pág. 39).

De fato, se tem algo que dá trabalho é cuidar dos nossos vínculos e a partir deles podem surgir diversas nuances, capazes de agregar tons coloridos ou opacos à nossa vida. Obviamente, o tom percebido vai depender da particularidade sob o olhar de cada um.

Sem dúvida, no modo on-line, torna-se mais fácil preservar e/ou encerrar as relações. O autor referido complementa tal ideia ao mencionar que fica em aberto o motivo de as redes eletrônicas terem se popularizado tanto e de serem largamente utilizadas. Então lança a dúvida: seria pela facilidade de conectar-se ou de cortar a conexão? Realmente, é uma excelente questão para refletirmos. O que você pensa sobre isso?

Avaliando todas as perspectivas aqui registradas, é preciso ratificar que o ambiente virtual e toda a sua profusão de dados e interações instantâneos se configura como algo bastante positivo. Reitero que se trata de uma tendência global na qual todos estamos inseridos, eu, você e todos que possuem um smartphone ou qualquer outro aparelho eletrônico com acesso à internet.

A busca contínua do equilíbrio

Exato! A minha intenção é salientar o benefício do equilíbrio para o alcance da saúde psicológica. Isso vale para absolutamente tudo! Se você se sente mal ao expor demasiadamente uma vida que não condiz com a sua, assuma uma postura diante disso e se tiver dificuldade e sofrimento ao tentar, cogite a possibilidade de procurar terapia.

Se seu problema é não finalizar uma atividade porque não consegue se desligar das redes sociais e esperar desesperadamente por “curtidas” em seus posts, avalie o impacto disso na sua vida. Faça o que lhe parecer mais prudente e procure ajuda profissional, caso lhe seja muito doloroso sustentar a situação.

Enfim, quando estamos conscientes do quão benéfico ou maléfico é algo para a nossa vida, temos a chave para tomar uma atitude e escolhermos como queremos levar adiante nossos próximos passos.

Portanto, que o status conectado tome uma proporção ampliada de sentido, englobando também um estado de alerta onde real e virtual possam refletir contextos harmônicos e possibilitar experiências mais positivas.

Referência:

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar ed., 2004.

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