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Renan Sargiani

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5 dicas essenciais para escolher sua abordagem em Psicologia

Postado em 24 de janeiro, 2015

Imagem de freepik. Cabeça humana com lâmpada

Um problema que todos os alunos de Psicologia enfrentam durante e mesmo depois do curso é como escolher uma abordagem em Psicologia. Para aqueles que são novatos e não sabem do que estou falando a Psicologia é uma ciência composta por diferentes abordagens (enfoques) ou formas de entender e investigar o comportamento e a mente. Alguns dos exemplos mais famosos de abordagens psicológicas são: behaviorismo (comportamentalismo), psicanálise (abordagem psicodinâmica), gestaltismo, humanismo e cognitivismo.

Assim, para novatos ou mesmo pessoas mais experimentes, escolher um dentre tantos enfoques da Psicologia parece ser uma tarefa praticamente impossível. E por esta razão resolvi escrever essas dicas para tentar ajuda-lo nesse processo.

1. Conhecer a si mesmo é o primeiro passo.

Os enfoques ou abordagens em Psicologia apresentam uma determinada forma de entender o homem e sua relação com o mundo. Por esta razão, se você “acha que tem que ser psicanalista” porque é a abordagem mais conhecida, mas você não concorda com a forma como essa abordagem entende o homem e sua mente, muito provavelmente escolher essa abordagem será frustrante.

Por outro lado, ao tentar pensar sobre quais são seus gostos e interesses, você pode também encontrar a abordagem que melhor explica aquilo que você também pensa e acredita. Eu não estou falando que a abordagem tem que responder ao que você já sabia, mas que ela têm que fornecer explicações que sejam coerentes com o que você também pensa.

O mais importante, portanto é saber dos seus interesses e depois entender quais são as matrizes do pensamento psicológico de cada abordagem, isso é, qual a visão de homem que está na base dessa abordagem e como eles utilizam procedimentos para investigar esse homem, quais são as evidências e resultados que essa abordagem fornece e como você pode se beneficiar desses conhecimentos e também contribuir para que esses conhecimentos se desenvolvam ainda mais e ajudem mais pessoas.

2. Não existe uma abordagem certa ou errada.

É muito comum ouvir também a pergunta sobre qual a melhor a abordagem ou qual a abordagem certa. Aliás, mesmo pacientes/clientes acabam perguntando qual a melhor abordagem para eles. No entanto, a verdade é que não é possível falar em certo ou errado quando falamos em ciência. Como já discuti em outro artigo (leia aqui) a Psicologia como ciência deve utilizar o método científico para testar hipóteses e teorias e assim validar algumas hipóteses e reformular quando elas não são mais adequadas. A ciência está em constante transformação e assim, o que é bom para uma coisa, talvez não seja para outra.

Ao invés de procurar uma abordagem certa é melhor buscar as melhores e mais atuais evidências sobre um determinado assunto que te interesse. Hoje em dia a Psicologia parece passar por um momento de transformação em que vemos a expansão de microteorias ao invés de grandes teorias explicativas. Em outras palavras, atualmente é mais fácil ver modelos teóricos que explicam coisas específicas ao invés de todas as coisas, como por exemplo teorias sobre o desenvolvimento da leitura,  sobre depressão, sobre processos grupais. Ao explicar coisas específicas as teorias acabam sendo mais eficazes do que teorias mais generalistas como a de Piaget.

No entanto, é claro que mesmo as microteorias estão baseadas em uma visão de homem e portanto, em uma teoria mais generalista. O que quero dizer é que nenhuma teoria consegue explicar 100% de um determinado assunto e mais além disso, várias teorias podem apresentar visões diferentes ou complementares sobre um determinado fenômeno.  Assim, a primeira dica que dei é uma das mais importantes para te ajudar a conhecer melhor a si mesmo, seus interesses e como escolher dentre a enorme variedade de opções que a Psicologia oferece no século XXI.

3. Não se case com teóricos!

Minha experiência em Psicologia sempre me levou a perceber que nós temos uma espécie de necessidade de uma figura com a qual se identificar. É como se sempre precisássemos de “um pai” para guiar nossas ações. Mas lembre-se ninguém é autossuficiente e infalível, os grandes teóricos formularam bases teóricas bastante sólidas, mas não são verdades absolutas ou “palavras da bíblia”.

Não vou discutir aqui sobre as diferenças entre conhecimento religioso, filosófico, científico e de senso comum. Mas em síntese o conhecimento religioso seria advindo de palavras sagradas e que, portanto, não precisam de confirmação, testes ou contestação. O conhecimento científico, por sua vez, depende da contestação daquilo que se supõe ser verdadeiro, ou seja, se coloca a todo momento a testes que buscam refutar ou encontrar evidências em favor das hipóteses. A Psicologia é uma ciência, portanto, o que Freud falou não é imutável, o que Skinner falou tão pouco é imutável, o que Piaget disse também não.

Assim, antes de levantar a bandeira de um dos grandes teóricos dizendo “eu sou freudiano”, “eu sou piagetiano”, “eu sou vygotskiano”, lembre-se que você é você e não um seguidor de alguém. Você é uma pessoa que estuda Psicologia e que deve portanto, se beneficiar do que existe de mais atual na ciência psicológica para auxiliar as pessoas, seja na educação, na saúde, trabalho ou qualquer área que a Psicologia pode contribuir de algum modo.

4. Conheça primeiro, critique depois.

Eu já vi muita gente com pré-conceitos e preconceitos sobre uma ou outra abordagem sem nem ao menos saber direito o que é que esse enfoque tem a contribuir e a forma como se trabalha. Não fique com ilusões de que apenas o que te falaram é a verdade completa, você pode se surpreender muito ao ler sobre uma determinada abordagem.

Para dar um exemplo concreto o behaviorismo é talvez uma das abordagens mais criticadas e  que os alunos tem uma certa rejeição imediata. No entanto, se você questionar essas mesmas pessoas, muitas delas nem sequer leram os textos básicos que explicam sobre essa teoria ou sabem as diferenças entre behaviorismo metodológico e behaviorismo radical. Como eu já discuti anteriormente a discussão fica apenas no nível superficial de “eu escolho Freud” e, portanto não gosto do Skinner e vice-versa, como se escolher uma abordagem fosse escolher um time de futebol.

Para criticar algo é preciso conhecer. Você não pode falar que o café de uma lanchonete é ruim se você não provou do café. Então prove as teorias! Leia, questione, pergunte-se como poderia ser diferente.  Aliás, lembre-se também que esses grandes teóricos também tiveram que conhecer profundamente as outras teorias para rejeitá-las e propor coisas novas. Da mesma forma que você deve conhecer a si mesmo, tem que conhecer as teorias para fazer uma escolha.

5. Mude sempre que precisar.

Eu sempre digo que a ordem da vida é a mudança. Não tenha medo de mudar, se algo foi suficiente por um momento, mas agora já não está mais atendendo a todas as suas expectativas então mude! Tente coisas novas.  Sempre é tempo de aprender o novo.

Tem uma frase do Barão de Itararé que resume essa minha ideia “Não é triste mudar de ideia; triste é não ter ideias para mudar.” Aliás, se você ler sobre esses grandes teóricos que já citei verá que eles tiveram que mudar suas ideias e concepções para criar novas ideias e novos caminhos em Psicologia.

Concluindo…

Essas são algumas das minhas sugestões para que você faça uma escolha mais consciente de uma abordagem da Psicologia, que é ao meu ver uma ciência fascinante justamente por essa multiplicidade de olhares sobre a realidade. Você tem alguma sugestão adicional? Como você escolheu a sua abordagem? Deixe um comentário contando para nós, você pode ajudar outras pessoas também.

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