Cada bebê que nasce traz consigo a mesma chama de esperança que observou o primeiro homem que controlou o fogo. É a chama do novo, da descoberta, do que ainda está por vir e mudar. Quando eu vejo uma criança que acaba de nascer eu vejo nela todas as possibilidades de um futuro melhor, todas as chances de um mundo melhor. Quando eu vejo um recém-nascido sinto-me como se ali estivesse finalmente a pessoa que pode mudar o mundo, alguém que saberá muito mais do que nós já soubemos.
Para entender as possibilidades que um bebê traz consigo, podemos pensar no seu desenvolvimento como se fosse o de uma chama. Se alimentarmos uma chama por menor e mais frágil que ela possa ser, ela se desenvolve, cresce cada vez mais, se torna independente e faz seu próprio caminho. Se por outro lado abafarmos a chama, protegê-la até mesmo do ar que a nutri, nós limitamos seu desenvolvimento, nós diminuímos as possibilidades que aquela chama tinha até que ela se esgote. Assim também é com os bebês, eles também têm possibilidades como uma chama, e embora possam parecer frágeis e pequeninos, eles precisam de estimulação, eles precisam de alimentação. Essa alimentação a que me refiro não é apenas comida, mas de instrução, afeto, cultura. As crianças precisam ter a possibilidade de interação com as benesses culturais, é nesse jogo de ação dos bebês e reação das pessoas ao seu redor que ela pode se desenvolver plenamente.
Quando nascemos temos as possibilidades dadas pela genética, mas biologia não é destino, é a interação com o meio físico e cultural que nos permite executar e transformar essas condições genéticas e nos desenvolvermos. As nossa herança genética é como uma receita de bolo, elas traz as instruções, mas é a forma como nós interagimos com o mundo (fazemos a receita) que guiará o nosso desenvolvimento (mudando o gosto, a forma e a qualidade do bolo).
Os bebês são mais ativos do que possa parecer e é justamente do nascimento aos 6 anos que as crianças têm mais facilidade para aprender, pois se trata de um período de extrema atividade cerebral que potencializa a aprendizagem e o desenvolvimento.
Porque limitar o crescimento das chamas?
Não há razão para limitar o desenvolvimento das chamas da esperança, isto é, as crianças devem receber todo os cuidados e proteção, mas precisam receber também a possibilidade de interação com diferentes estímulos e situações. Quanto mais possibilidades de crescimento, melhor para as crianças e seu desenvolvimento.
Quando os bebês nascem elas já estão inseridos em um mundo pronto, pronto mas não acabado e imutável. A ordem da vida é a mudança e os bebês podem nós levar muito mais longe do que jamais fomos. São eles que continuarão o nosso caminho e é nosso dever potencializar seu desenvolvimento, dando todas as condições para que eles possam ter um desenvolvimento pleno e saudável.
É evidente que algumas coisas são muito complexas para crianças tão pequenas , mas não há nada no mundo de tão complexo que não possa ser simplificado para que possa ser aprendido. Veja o exemplo da lei da gravidade, não é preciso fórmulas matemáticas ou um doutorado para aprender que quando as chaves do carro do papai escapam da mão elas caem no chão, elas caem e não flutuam ou sobem. Isso que qualquer criança pode observar é a descoberta da lei da gravidade! Ainda que não tenha esse nome nesse momento do descobrimento.
É nesse sentido que podemos ensinar qualquer coisa a qualquer criança em qualquer idade como propunha Jerome Bruner (1978). Nós devemos dar condições para que a chama cresça, embora cada chama tenha seu tempo e seu próprio ritmo. Não minimizem a chama da esperança, não diminuam as suas possibilidades de desenvolvimento. Potencializem o desenvolvimento dessa nova vida, desse novo amanhã.
Referência: Bruner, J. (1978). O processo de Educação. São Paulo: Companhia Editora Nacional.